Monday, January 19, 2015

Mais uma lição: Todo adulto deveria ser criança

É incrível a sabedoria de uma criança. Ninguém deveria "crescer".

Hoje é dia de Martin Luther King e a data foi tema na escola da Gigi na semana passada.

A história de Dr. Martin Luther King, que quando pequeno não podia brincar no mesmo parquinho que as crianças brancas, a deixou inquieta e cheia de perguntas.

-          Branquinhos e pretinhos não iam para a mesma escola. Por que, mamãe?

Silêncio. Não há resposta. Como explicar a maldade?

E logo veio uma observação.

-          Ainda bem que hoje a gente pode brincar todo mundo junto.

Gigi tem amigos branquinhos, pretinhos, de olhos puxados, muçulmanos, imigrantes, norte-americanos… amigos de todos os jeitos e raças.

Mas a maldade do homem continua por aí. Que pena, minha filha!

Há discriminação por raça, cor, religião, opção sexual, classe social... E cada dia inventam uma nova 'categoria' para  justificar o ódio.  

Aliás, Gigi está muita próxima dessas mazelas inexplicáveis. Ela é filha de imigrantes, a minoria da vez nos Estados Unidos.

Só espero que a sabedoria do coração de criança continue na cabeça adulta da Gigi.

Ta'í! Acho que esse é o remédio da humanidade. Os adultos precisam ser mais crianças.

O grande perde a capacidade de se indignar diante do desespero do outro. É indiferente ao sofrimento alheio. E encontra desculpa para qualquer injustiça.

A mente do adulto sufoca o coração da criança. Está cheia de ódio e intolerância.

Eureca! A Gigi me dá mais uma lição.

Todos deveriam ser crianças para sempre!


Monday, March 31, 2014

Gigi começa a escrever a sua história

A vontade de aprender da Gigi é contagiante. Na ânsia de querer escrever e ler, ela improvisa. No alfabeto, ela troca as letras. Escreve outras de forma invertida e mescla o português com o inglês.

Uma confusão que traz a cada descoberta uma festa e desperta ainda mais o desejo de descobrir o que sifnifica "aquela fila de letras".

No início da pré-escola – equivalente ao jardim da infância do Brasil - ela escrevia Gigi. Tanto que nos primeiros dias de aula foi assim que ela escreveu o nome quando a professora pediu. Depois de seis meses, ela já traça nome e sobrenome: Giovana De Moraes.

Gigi também escreve o nome do pai, o meu e sabe as iniciais de pessoas mais queridas.

A pequena aprendiz insiste que eu soletre as palavras que ela quer escrever. A última foi amor, assim mesmo, em português, ainda que esteja sendo alfabetizada em inglês.

Eu me encanto e me assusto. Afinal, Gigi nem completou 5 anos e já forma palavras aletoriamente, escrevendo a sua própria história. Tenho uma vaga memória de que eu comecei essa aventura aos 6 anos.

Mas a surpresa não é apenas minha. Ao ler um artigo do pedagogo Marcelo Cunha Bueno, percebi que minha filha não é precoce, ela faz parte de uma geração.

A pressa é um sintoma dos tempos modernos onde a alfabetização começa já aos 3 anos. Entretanto, salienta o especialista, a iniciação antecipada não significa que a criança vai ser mais inteligente.

Nesse sentido, apenas deve-se respeitar o ritmo e as particularidades de cada criança.

Para os pais, Bueno avisa que não é necessária qualquer intervenção sistematizada e escolarizada em casa.

A nós cabe simplesmente o dever de incentivar essa vontade de desbravar o mundo das letras. A boa e velha leitura antes de dormir, por exemplo, aparece como um ótimo aliado.

Além disso, o importante é improvisar e ver em cada momento uma chance de ensinar e aprender. O outdoor durante o trânsito engarrafado pode trazer várias letras conhecidas. Com a Gigi dá certo.

E na curiosidade de aprender a ler e a escrever a lista de compras se transforma numa aula. Enquanto eu escrevo o que a gente precisa, Gigi faz a sua própria “relação de faltas”. Por enquanto, ela fica apenas nas iniciais dos produtos e o mais interessante é que pela primeira letra ela consegue lembrar do que precisamos levar para casa.

Essas 'brincadeiras' – avisa o professor Bueno – também devem respeitar as fases do processo e aprendizado em que as crianças começam a escrever com letras de forma maiúsculas, depois, passam a ler livros com letras de imprensa, até chegarem à letra cursiva.

Lembre-se que tudo acontece ao seu tempo e que cada criança segue um compasso diferente.

Wednesday, February 5, 2014

Entre sustos, os passeios noturnos da Gigi são inofencivos

Numa noite dessas levei um susto com o grito do Beto. Na verdade, foi ele quem se assustou com a Gigi em pé ao seu lado na cama.
Gigi estava, literalmente, dormido em pé. Eu a levei de volta para a cama, onde continuou embalada no sono. 
Em outro episódio, estávamos na sala e Gigi apareceu. Mais uma vez a levei para cama. Na manhã seguinte, ela não se lembrava de nada como nas outras vezes.
Mas na noite em que o Beto saiu do banheiro e se deparou com a Gigi, que já estava dormindo há horas, em pé no corredor, comecei a me preocupar.
Na última consulta com o pediatra eu já havia reclamado da relutância dela em dormir, do sono agitado e da mania de se mudar para a minha cama no meio da noite.  Mas o médico me tranquilizou e disse que Gigi está se desenvolvendo muito bem e que as horas de sono, ainda que abaixo do aconselhável, seriam suficientes para ela. No mais, era uma questão de disciplina.
Agora, os episódios de Gigi andar pela casa estão mais frequentes e eu comecei a ler sobre sonambulismo infantil. 
O sonambulismo, descrevem os especialistas, é um tipo de parassonia (manifestação noturna durante o sono) em que as funções motoras despertam, mas a consciência não e, assim, a pessoa interage parcialmente com o ambiente, podendo se mexer excessivamente, falar ou até “perambular” pela casa,  mas ela  não se lembra de nada na manhã seguinte assim como acontece com a Gigi. 
E isso é muito comum e mais constante entre as idades de 4 a 10 anos devido à imaturidade do sistema nervoso central, que ainda se encontra em intenso desenvolvimento. 
Pesquisas indicam que entre 15 a 30% das crianças já apresentaram pelo menos um episódio de sonambulismo. Os mesmos estudos revelam que com a chegada da adolescência, isso tende a diminuir sensivelmente.
Nesse caso, Gigi está apenas no início dos passeios noturnos uma vez que a minha pequena ainda não completou 5 anos.
Além disso, segundo o neurologista Álvaro Pentagna, cerca de 80% das crianças sonâmbulas têm histórias similares na família.  “É um distúrbio hereditário, mas costuma ter algo que desencadeia – geralmente barulho, som ou estímulo enquanto dorme”, explica.

E eu consigo me lembrar de algumas experiências da minha infância parecidas com os passeios noturnos da Gigi.  Tal mãe, tal filha.
Pentagna esclarece ainda que o conselho de que pessoa não pode ser acordada não passa de um mito. "Durante o sonambulismo, o despertar é confuso e agitado, mas pode ser feito. O ideal é ir com tranquilidade, falar baixo e conduzir a criança calmamente até um local seguro."
Os episódios de sonambulismo são breves e de frequência variável – podem durar segundos ou chegar a 40 minutos - dificilmente prejudicam a qualidade do sono.  “Procurar um médico é importante quando o distúrbio causar medo ou quando ocorrem situações de perigo. O quadro costuma melhorar naturalmente com o avanço da idade”, observa o neurologista.
Prevenção - Uma rotina de horário para dormir e acordar deve ser imposta para a criança. Evitar brincadeiras muito agitadas antes de dormir também favorece uma noite de sono mais tranquila.
Já o tratamento a base de medicação só é recomendado quando o sonambulismo prejudica o dia-a-dia da criança. Se os episódios ocorrerem de quatro a cinco vezes por noite ou cinco vezes na mesma semana o pequeno pode apresentar sinais claros de sonolência, alternando o humor ao longo do dia.

Wednesday, November 27, 2013

A chupeta virou uma bicicleta

Só hoje me dei conta de que ainda não registrei a tardia separação entre Gigi, aos 4 anos, e sua querida chupeta. Já faz um tempo, em junho mais precisamente.

Na verdade, a primeira tentativa aconteceu aos dois anos quando Gigi encontrava a chupeta apenas na hora de dormir. Mas eu acabei fraquejando e cedi num momento de choro.

Estávamos vivendo um período de muito estresse e resolvi não forçá-la. Me convenci de que Gigi abandonaria o bibi quando estivesse pronta, preparada.

Entretanto, a "hora h" começou a demorar demais. Além dos problemas de dentição e respiração que o uso da chupeta pode causar, os lábios da minha pequena começaram a ficar machucados e o bibi, já havia alertado o pediatra, era a principal causa.

Por coincidência, era início de verão e as crianças começaram a aparecer no pátio do condomínio com as bicicletas. Gigi queria muito uma e, mais uma vez, ofereci uma bicicleta em troca da chupeta.

Gigi, claro, não concordou.

Nesse momento, entendi que era preciso acelerar esse desapego e “perdi a chupeta”. Contei sobre o sumiço e disse que não compraria outra. Minha pequena  chorou inconsolável.

“Daqui para frente não vai ter mais chupeta, de jeito nenhum mas a gente pode comprar uma bicicleta, o que você acha?”

A contra-gosto, ela aceitou. Gigi é esperta, percebeu que a situação era irreversível e levou o prêmio de consolação.

Nos dias seguintes, na hora da birra, Gigi chorava e pedia pelo bibi. Logo, lembrava-se e dizia em voz alta "tô louca, esqueci que não tem mais bibi".

Nos momentos mais críticos, ela se perguntava: "E agora, como vou me acalmar?".

Com o tempo você se acalmou, Gigi. E agora pouco fala da chupeta.

E eu também me acalmei. Aprendi a contornar a situação sem recorrer ao bibi.


Wednesday, June 19, 2013

O que faz toda essa gente?

Como explicar para a Gigi o que a mamãe está acompanhando pela internet e pela televisão?  Por que ela tem que  ficar quietinha enquanto a mamãe observa  tanta gente nas ruas do Brasil?

Como ela ainda é muito novinha, apenas quatro anos, nenhuma explicação faria sentido.  Para evitar mais perguntas, desliguei tudo e fui brincar com a minha pequena.

Mas resolvi  deixar esse momento registrado. Acho que ela vai gostar de ler quando crescer mais um pouquinho.

Gigi,

O Brasil é lindo e tem muita coisa boa.  Você já foi lá e gostou muito.

Mas o Brasil também tem muitos problemas e é por isso, filha, que tem tanta gente na rua. Essas pessoas estão pedindo por um país melhor. Um país que também é seu e eu faço questão que você o conheça bem. Aos poucos, eu te ajudo.

Você mora nos Estados Unidos e por aqui as coisas são um pouco diferente.

Os Estados Unidos carregam a pinta de potência que dita as regras do mundo, inclusive oprimiu o Brasil por muitos anos. E nem por isso o país está livre dos problemas nem dos protestos.

A verdade, filha, é que eu desejo que até chegar a hora de você encarar o mundo já não exista mais tantas coisas ruins por aí. Mas se um dia você se deparar com uma injustiça não se cale.  Junte os amigos e quem você conseguir convencer para gritar e virar o jogo. Isso sempre é possível.

Papai já lutou contra da ditatura no Brasil e venceu. Aliás, foi aquele movimento que proporcionou tanta liberdade de expressão que hoje invade as ruas.

Mamãe não teve tanta ‘sorte’. A minha geração se acostumou com a democracia e se acomodou. Eu só fui encontrar a minha turma quando entrei para a faculdade de jornalismo. Dizem que quem se interessa por essa profissão tem alguma coisa de revolucionário.

Nessa época, o seu pai já era jornalista, sabia? Coisas do destino.

Não sei se você vai ser jornalista, embora tenha nascido no Dia do Jornalista (mais uma coincidência!), mas espero que você carregue os princípios transformadores do bem que tentamos te ensinar.

Um beijo e até lá (o passado do futuro),

Mamãe

Sunday, May 26, 2013

Gigi vai para a cama sem fralda

Como registrei nesse blog, Gigi deixou as fraldas logo depois de completar dois anos. Mas a proteção noturna continuou. Aos quatro anos, finalmente, Gigi está totalmente livre das fraldas.

Para muitos, pode parecer que isso aconteceu tarde, mas é importante lembrar que cada criança tem o seu tempo e essa diferença deve ser respeitada. Para entender qual é a hora certa, entretanto, os pais devem se ater aos sinais. “Quando as crianças já têm o controle diurno e já estão conseguindo ficar com a fralda seca à noite, podemos tentar retir­á-la”, indica a pediatra Rachel Quiles.

O pediatra Albert Bousso, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, concorda com Rachel e acrescenta que o melhor é conduzir esse processo com calma e em etapas. "Isso pode demorar semanas, meses, até um ano, e é preciso respeitar esse tempo de adaptação e amadurecimento da criança", avalia Bousso.

Desde o início, segui todas dicas melhores profissionais da área, mas, embora sejam eficazes na maioria dos casos, não funcionaram com a minha pequena. Desde que Gigi trocou as fraldas pela calcinha durante o dia, conversava com ela sobre não fazer xixi na cama, a levava ao banheiro antes de colocá-la para dormir, controlava a ingestão de líquido durante a noite e fazia uma festa quando, raramente, a fralda amanhecia seca. Nada adiantava!

Então resolvi desafiar as fraldas molhadas, me apoiei nos outros sinais de amadurecimento da Gigi e parti para a batalha. Coloquei até o relógio para despertar para garantir que eu levaria a Gigi ao banheiro durante a madrugada. E isso aconteceu só por dois dias. Mesmo assim, no primeiro dia de luta, ela levantou muito chateada para me avisar que tinha feito xixi na cama.

Do terceiro dia em diante, porém, já não levantei mais durante a noite e Gigi também não molhou  a cama. Ela está pronta!

Eu  eu sei que é normal alguns ‘escapes’ durante os próximos dias e os pediatras observam que nesse momento é preciso acalmar e encorajar a criança a continuar o ‘desfralde’.  Na hora do beijo de boa noite vale à pena lembrá-la, durante os primeiros meses, de que está sem fralda.

No caso da Gigi, a nova fase influenciou o comportamento diurno. Coincidência ou não, quando Gigi usava fralda para dormir, ela tinha vontade de fazer xixi toda hora durante o dia e era muito desagradável ter que visitar os banheiros de todos os lugares por onde íamos. Agora ela aguenta numa boa.

E, claro, que tamanha façanha merece um prêmio. Para a Gigi, deixar a fralda significou se transformar numa linda pirata. Parabéns, filhota.

Wednesday, March 6, 2013

Na casa da Gigi a bagunça está liberada

Eu estava aqui lendo quando levantei os olhos para espiar a Gigi e me deparei com a sala “de pernas para o ar”. Aliás, isso virou rotina aqui em casa. Gigi tira tudo do lugar para transformar o cômodo em casinha, loja, escola, restaurante e até salão de beleza.

Claro que reclamo, mas essa bagunça toda é vital para o desenvolvimento da criança. De acordo com a psicóloga e psicoterapeuta infantil, Margot Sunderland, autora do livro The Science of Parenting, a brincadeira é a principal forma de desenvolvimento da curiosidade, da motivação e do impulso exploratório das crianças.

Margot observa que as  experiências interessantes ajudam a ativar energicamente o “sistema de busca” que  dá base à capacidade criativa. E para estimular a criatividade nem é preciso gastar dinheiro. Ao contrário, a psicóloga afirma que é muito bom a criança “transformar” um objeto em diversas coisas porque amplia o ‘espírito inventivo’. Aqui em casa, por exemplo, uma hora a cadeira é a geladeira, outra a vitrine. Enquanto que a forma redonda de bolo vira o volante do carro. E por aí vai …

Gigi vira até uma boneca na caixa para a mamãe comprar
Às vezes, pode ser necessário que os pais ajudem a começar a brincadeira. “Mas depois que ensinar como brincar com novos objetos, o sistema de busca será ativado e é preciso deixar que a criança explore sozinha o caminho”, orienta a especialista.

Para Margot, o estímulo do sistema de busca de uma criança em idade pré-escolar sedimenta uma importante habilidade de exploração, dedicação, curiosidade e fé em si mesmo. “E é assim que se criam o amor pelo conhecimento e a vontade de aprender,” garante.

Então, quando Gigi diz  “tive uma boa ideia” o jeito é deixá-la à vontade para extravasar a imaginação. E num país onde é frio a maior parte do ano a bagunça tem que rolar dentro de casa mesmo. Afinal, depois tem o clean up, mas essa já é outra história.