Numa noite dessas levei um susto com o grito do Beto. Na
verdade, foi ele quem se assustou com a Gigi em pé ao seu lado na cama.
Gigi estava, literalmente, dormido em pé. Eu a levei de volta para a cama, onde continuou embalada no sono.
Em outro episódio, estávamos na sala e Gigi apareceu. Mais uma
vez a levei para cama. Na manhã seguinte, ela não se lembrava de nada como nas outras vezes.
Mas na noite em que o Beto saiu do banheiro e se deparou
com a Gigi, que já estava dormindo há horas, em pé no corredor, comecei a me
preocupar.
Na última consulta com o pediatra eu já havia reclamado
da relutância dela em dormir, do sono agitado e da mania de se mudar para a
minha cama no meio da noite. Mas o
médico me tranquilizou e disse que Gigi está se desenvolvendo muito bem e que
as horas de sono, ainda que abaixo do aconselhável, seriam suficientes para ela.
No mais, era uma questão de disciplina.
Agora, os episódios de Gigi andar pela casa estão mais
frequentes e eu comecei a ler sobre sonambulismo infantil.
O sonambulismo, descrevem os especialistas, é um tipo de
parassonia (manifestação noturna durante o sono) em que as funções motoras
despertam, mas a consciência não e, assim, a pessoa interage parcialmente com o
ambiente, podendo se mexer excessivamente, falar ou até “perambular” pela casa, mas ela não se lembra de nada na manhã seguinte assim como acontece com a Gigi.
E isso é muito comum e mais constante entre as idades de
4 a 10 anos devido à imaturidade do sistema nervoso central, que ainda se
encontra em intenso desenvolvimento.
Pesquisas indicam que entre 15 a 30% das crianças já
apresentaram pelo menos um episódio de sonambulismo. Os mesmos estudos revelam
que com a chegada da adolescência, isso tende a diminuir
sensivelmente.
Nesse caso, Gigi está apenas no início dos passeios noturnos uma vez que a minha pequena ainda não completou 5 anos.
Além disso, segundo o neurologista Álvaro Pentagna, cerca
de 80% das crianças sonâmbulas têm histórias similares na família. “É um distúrbio hereditário, mas costuma ter algo que
desencadeia – geralmente barulho, som ou estímulo enquanto dorme”, explica.
E eu consigo me lembrar de algumas experiências da minha infância parecidas com os passeios noturnos da Gigi. Tal mãe, tal filha.
E eu consigo me lembrar de algumas experiências da minha infância parecidas com os passeios noturnos da Gigi. Tal mãe, tal filha.
Pentagna esclarece ainda que o conselho de que pessoa não pode ser acordada não passa de um
mito. "Durante o sonambulismo, o
despertar é confuso e agitado, mas pode ser feito. O ideal é ir com
tranquilidade, falar baixo e conduzir a criança calmamente até um local
seguro."
Os episódios de sonambulismo são breves e de frequência
variável – podem durar segundos ou chegar a 40 minutos - dificilmente prejudicam a qualidade do sono. “Procurar um médico
é importante quando o distúrbio causar medo ou quando ocorrem situações de
perigo. O quadro costuma melhorar naturalmente com o avanço da idade”, observa o neurologista.
Prevenção - Uma rotina de horário para dormir e acordar deve ser
imposta para a criança. Evitar brincadeiras muito agitadas antes de
dormir também favorece uma noite de sono mais tranquila.
Já o tratamento a base de medicação só é recomendado
quando o sonambulismo prejudica o dia-a-dia da criança. Se os episódios ocorrerem de quatro a cinco vezes por noite ou cinco vezes na
mesma semana o pequeno pode apresentar sinais claros de sonolência, alternando
o humor ao longo do dia.