De uns tempos pra cá, Gigi tem me deixado tonta de tanto repetir
“por que?”. Estamos passando pela famosa fase das inúmeras perguntas, mais
acentuada entre os 3 e 4 anos, quando a criança passa a se interessar em entender
as coisas a sua volta.
Segundo a pedagoga Jussara de Barros, em artigo para a
Escola Brasil, “isso ocorre devido à construção da própria identidade, que
acontece na infância, quando a criança passa a se descobrir, a ter noção do próprio
‘Eu’, da importância de sua existência, das coisas que consegue fazer, que vê
ou que ouve”.
E é “essa curiosidade, a busca da compreensão do mundo, é que a
levará a fazer novas descobertas, aguçando sua percepção para o aprender,” completa
Jussara.
Justamente por causa dessa curiosidade, muitas
vezes, a criança emenda um por que atrás do outro. Num desses finais de tarde,
por exemplo, a chuva nos forçou a deixar o parquinho mais cedo. Foi o suficiente para Gigi disparar um monte de indagações.
A nossa conversa
foi mais ou menos assim:
Mamãe, por que vamos embora?Porque está chovendo.Por que está chovendo?Porque a nuvem está cinza de tão carregada de água.Por que?Porque precisa chover para a nuvem voltar a ficar branquinha.
Finalmente, Gigi soltou um ahhhh, expressão que a minha
pequena usa quando parece estar satisfeita.
Para alguns, as minhas respostas podem parecer complexas ou fantasiosas demais.
Entretanto, me preocupo em ser a mais verdadeira possível. Sigo o
conselho de uma psicóloga para não subestimar a capacidade de entendimento do
pequeno. “Não crie mentiras ou ‘respostas fantásticas" porque a criança
acaba percebendo que não corresponde à verdade. Respondendo com uma mentira o
seu filho deixará de confiar nas suas afirmações,” observa Carmem
Ganopa.
Por outro lado, as explicações devem ser adequadas à idade,
num vocabulário simples e de fácil compreensão. A psicóloga lembra ainda que “é
preciso dar tempo para criança formular a sua pergunta e nunca entrar em
contradição com o parceiro para não confundir a criança”.
Nessa busca constate por respostas, é comum que falte
palavras para os pais, mas especialistas afirmam ser importante que os adultos
tenham paciência e ouçam com atenção os seus filhos. “Se a criança é tolhida
pelo adulto, no momento em que faz perguntas, poderá perder o interesse, a
vontade de descobrir coisas novas, ficando paralisada no seu processo de aprendizagem
por medo ou insegurança,” adverte Jussara.
O conselho dos experts para sair da saia justa do interrogatório
é devolver a pergunta para que a própria criança tente explicar ou utilizá-las
em momentos que esta não queira obedecer.
“Quando diz que não quer comer a mãe
poderá perguntar-lhe o porquê, se não quer tomar banho poderá também utilizar
uma pergunta e, assim, mostrar que nem tudo pode acontecer da forma como ela
deseja”, orienta a pedagoga.
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