Sunday, February 24, 2013

Uma americana que [quase] só fala português

Gigi é uma tagarela. Embora seja tímida, quando ganha confiança passa a conversar igual gente grande com qualquer pessoa desde que seja em português.  Trivial se não fosse o fato de que moramos nos Estados Unidos.

A filha de brasileiros passou alguns meses no Brasil onde ampliou muito o vocabulário em português, enquanto que o em inglês encolheu demais. Agora, de volta para casa,  a minha americana está sentindo falta de saber falar o próprio idioma. 

Quando estamos nos preparando para sair de casa, por exemplo, Gigi sempre pergunta se onde vamos fala-se “português igual a gente ou de línguas (como ela se refere ao inglês)”. Quando respondo português, ela se mostra muito mais confortável.

Por outro lado, ela tem vontade de falar inglês e “ser igual aos outros”. Num ambiente mais americano, ela cochicha no meu ouvido que “temos que falar de línguas porque aqui todo mundo fala assim”. Gigi começa, então, a emitir um monte de sons que seria o inglês, misturando com as palavras que ela já conhece no idioma.

Os profissionais da área garantem que conviver com mais de um idioma desde cedo é instintivo e benéfico porque aumenta o número de conexões cerebrais na região responsável pela linguagem, ajudando a criatividade e o raciocínio, além da criança expandir a cultura e o intelecto.

“Existem diferentes caminhos para que uma criança seja bilíngue. Investigações mostram que é preferível desenvolver bilinguismo em crianças menores porque é uma forma natural para aprender dois idiomas ao mesmo tempo,”  defende o especialista em educação bilíngue e professor da Universidade de Gales, Colin Baker.

Enquanto isso, Gigi se diverte em ser uma americana-brasileira 
Em casa, sempre seguimos essa linha e só conversamos em português. O desenvolvimento do inglês da Gigi fica por conta dos cartoons e dos amigos que falam o idioma. 

Mas depois da temporada no Brasil,  minha preocupação em saber como lidar com a filha bilíngue aumentou. E o processo de aprendizagem já não me parece tão natural assim.

Antes, Gigi falava um pouco das duas línguas e, às vezes, mesclava os idiomas na mesma frase, mas sabia diferenciar o português do inglês. Num ritmo bem mais lento, ela está retomando a rotina. 

Para especialistas, isso é absolutamente normal e não significa que um idioma é mais fácil do que o outro. “Isso acontece por não terem encontrado a tradução exata para o que querem dizer. Com o tempo isso passa”, explica a fonodióloga Kelly Carvalho.

Vantagens de ser bilíngue
Em 2012, a Universidade York em Toronto, no Canadá, publicou um estudo sobre crianças educadas em ambientes bilíngues. Segundo a pesquisa, apesar da aquisição dos diferentes idiomas ser mais lenta, esses estudantes têm uma compreensão metalinguística melhor e mais profunda sobre a estrutura das línguas, uma ferramenta importante para a alfabetização durante o desenvolvimento infantil.

O estudo também aponta que elas têm melhor desempenho em testes de controle executivo, que medem a habilidade da criança em focar a atenção onde é necessário sem se distrair e deslocar a atenção quando solicitado.

Por outro lado, como o bilinguismo é frequentemente ligado a outros fatores, incluindo diferenças culturais, situação socioeconômica e história de imigração, fica difícil determinar qual aspecto da experiência bilíngue é o responsável pelos resultados.

Ainda segundo experts no assunto, o cérebro humano nasce com uma capacidade de adaptação enorme e pode aprender qualquer idioma desde que lhe seja apresentado. E quanto mais cedo a segunda língua for aprendida, melhor será a pronúncia e a distinção dos sons daquele idioma. “O importante é sempre respeitar as peculiaridades de cada criança”, enfatiza Kelly.

Em relação a alfabetização, por exemplo, deve-se prestar muita atenção no processo de aprendizagem. Se alguma dificuldade grande for observada com algum dos idiomas, o melhor é que a criança seja alfabetizada em um só deles.

Depois de tantas leituras e consultas, resolvemos continuar de onde paramos. Em casa, só português. Mamãe  e papai só dão um empurrãozinho com frases básicas como “What is your name?”, mas o inglês Gigi vai absorver naturalmente.

Em setembro, quando Gigi entrar para a escola aqui nos Estados Unidos, o processo deve ser mais acelerado, garantem os especialistas. Te conto quando chegar lá.

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