Monday, January 25, 2016

Cultivar o português em casa não atrapalha a alfabetização em inglês


No segundo semestre da primeira série, Gigi já lê fácil. Mas nem sempre foi assim.

A alfabetização começou há dois anos, bem devagar, na pré-escola (o equivalente ao jardim da infância no Brasil) e a minha brasileira-americana, que falava muito pouco inglês, se deparou com o desafio de um processo onde a leitura segue a regra do fonema, ou seja, as crianças reconhecem os sons das letras e praticamente adivinham o que está escrito.

Por isso, quando Gigi sound out words (forma a palavra através dos sons), ela nem sempre sabe do que se trata, dificultando a lapidação da palavra. Às vezes, é preciso um sopro, mas logo a leitura acontece, com uma pronúncia perfeita, sem sotaque, como num passe de mágica das estórias de contos de fada que Gigi adora.


Mais difícil

Eu já ouvi que tenho culpa de tornar o processo mais difícil para a Gigi porque eu deveria falar em inglês para ajudá-la no desenvolvimento da língua.

Mas não é por aí, segundo a própria professora de inglês, Theresa Castagnetti, que companhou a Gigi no Kindergarten (pré-escola no Brasil). "Falar uma segunda língua não é prejudicial. Pelo contrário, é uma vantagem. O inglês vem naturalmente", garanitu "Mrs. C", como é conhecida entre os alunos.

Com o incentivo da escola, em casa só se fala português, idioma que Giovana domina muito bem, com os escorregões de qualquer criança brasileira de seis anos, e sem ficar para trás na alfabetização em inglês.

O ideal seria ela frequentar uma escola bilíngue, onde a criança aprende nas duas línguas, de forma simultânea, o currículo escolar. Entretanto, o governo de Massachusetts aboliu esse método há cerca de dez anos para conter gastos e desde então poucas iniciativas nesse sentido sobreviveram.

Como não contamos com esse privilégio na nossa cidade, Gigi frequenta as aulas de Inglês como Segunda Língua (ESL, na sigla americana), uma espécie de reforço, que acontece durante o horário escolar.

Leitura em português

Agora, na primeira série, Gigi também teve a sorte de entrar para a classe da "Miss O", que faz especialização em ESL e acha o máximo a criança cultivar mais de um idioma. "Leia para a Giovana em português também. O importante é estimular a leitura e respeitar o tempo de aprendizado peculiar de cada criança", orientou.

E disso eu faço questão. Eu sento todas as noites para ler com a Gigi, um ritual nem sempre fácil, mas transformador e propício, claro, para surpreender qualquer mãe babona.

Numa dessas vezes, por exemplo, escolhemos um livro em português, como havia sugerido a "Miss O", e a pequena leitora destrinchou toda a estória do folclore brasileiro. Gigi usou a técnica americana do sound words out para ler, do ínício ao fim, as travessuras do saci-pererê.

Contrariando críticas e através de um processo natural, sem sacrifícios, a americana que mal falava inglês agora lê muito bem no próprio idioma e já começa a tirar onda com livros em português.

Dica da Mamãe da Gigi: Um instrumento que ajuda muito na iniciação da leitura em inglês é o aplicativo raz-kids, um livro interativo gratuito que traz o áudio e a leitura, além do quiz para ajudar na interpretação. Vale para crianças bilíngues e aquelas que querem aprender o inglês.

Friday, January 15, 2016

Resoluções 2016: mais blog para mamãe, menos TV para Gigi

Se eu consigo fazer mil coisas ao mesmo tempo no trabalho, por que não acrescentar mais prazer? Se escrever é a minha matéria prima por que não dar uma escapadinha do texto jornalístico para uma linguagem mais solta das narrativas da Mamãe da Gigi? Tudo acaba nas pontas dos dedos em um teclado.
E assim surge a primeira postagem do blog de 2016, de uma resolução de fim de ano, cheia de histórias para contar e ainda sem a certeza da periodicidade.
Gigi está aqui do meu lado. Enquanto eu escrevo, ela brinca de bonecas.
A televisão está desligada porque só pode assistir por duas horas. A própria Gigi me lembra a regra e me pede para controlar o horário.
Isso mudou na semana passada durante a visita ao pediatra que a perguntou quantas horas por dia ela assistia televisão. Gigi arregalou os olhos, não sabia se a resposta que tinha para dar era acerta. Eu apenas sorri e o Dr. Osler entendeu.
“Apenas duas horas por dia”, respondeu o médico. “Entre televisão e jogos no telefone ou no tablet”, completou.
Gigi concordou. Como dizer não ao Dr. Osler? Ele a presenteou com um livro, daqueles de capítulos, um sonho de consumo para a menininha de seis anos.
Ao entrar no carro, a questionei. “E agora, Gigi? Apenas duas horas, hein?”.
Ela riu e me agradeceu por não ter contato a verdade ao Dr. Osler. Acho que ela tremeu só de pensar que eu poderia citar as incontáveis vezes que eu briguei para que desligasse a televisão ou saísse do joguinho.
Para a minha surpresa, há uma semana Gigi controla o próprio horário da TV. Resolução da pequena para 2016.
Eu sei que uma vez ou outra a gente vai passar da medida, afinal toda regra tem sua exceção. E isso não é errado!

Sunday, July 26, 2015

Porque domingo de manhã pode

É domingo. E eu o institui como o meu dia de acordar tarde.

Gigi está com seis anos e no domingo ela se vira com o café da manhã que fica na altura dela de um jeito bem fácil. Ela , acostumada a ter tudo na mão, começa a pedir por essa independência e eu tiro vantagem, pelo menos nesse dia.

É verdade que depois que eu levanto, a palavra “mãe” é dita umas cem vezes em menos de 1 hora. 
Hoje, por exemplo, Gigi vestiu o personagem de polícia e a grande questão a ser resolvida assim que levantei da cama era o que podia virar uma viatura. Já estava tudo pronto -  com direito a pedaços de papel usado para fazer os adesivos de polícia espalhados pela casa toda -  só faltava o carro.
Sem nem lavar o rosto, fui lá ajudar com o tal veículo. Depois de argumentar contra todas as minhas sugestões, a contestadora Gigi aceitou transformar a caixa de brinquedos no carro de polícia.
Com o  cenário armado e a bagunça feita, porque no domingo pode, principalmente quando tem jogo do Fluminense na TV e o pai fica incomunicável no sofá da sala,   era hora de rever o que ficou para trás nessa manhã:
- Trocou de roupa? Sim
- Fez xixi? Sim
- Lavou o rosto? Sim
- Penteou o cabelo? Sim (do jeito dela) 
- Tomou café da manhã? Sim (há de se dizer que foram deliciosos biscoitos de chocolate porque no domingo, para a mamãe dormir até mais tarde,  pode)
- Escovou os dentes? Ops…
Lá fomos nós escovar os dentes e caprichar no café da manhã que, confesso, me deixou com peso na consciência. 
Mas, claro, que não podia ser um café da manhã simples, afinal é domingo. A receita de hoje é waffle da Elsa (ela mesmo, a rainha do filme Frozen). Ficou feinho, eu não levo jeito para isso e nem vale a pena mostrar aqui, mas rendeu um prato vazio, barriga cheia e muito, muito mais energia para gastar.

Mais um retorno 
Nesse domingo, depois de  merecidas horas de sono a mais e no Dia dos Avós no Brasil, a Mamãe da Gigi retoma o blog para contar as aventuras de uma mãe de primeira viagem imigrante nos Estados Unidos.
Espero conseguir registrar, assim como a vó Mirtes fez em seu diário sobre a minha infância, os momentos da Gigi. E eu já até imagino a saudade que eu vou sentir dessas manhãs de domingo ao reler esse post. 

OBS: Gigi queria muito escrever na reinauguração do blog. Com o laptop no colo, ela digitou o que seria um texto em português. Vale ressaltar que a pequena está sendo alfabetizada em inglês e aprende a escrever pelo fonema das palavras.

"oe    gigi   sta    falanw     ake     me   mamae    kordo    mwetw    tarje      e     26    jolie      2015       me      a    fotw     velw     taw"

A leitura seria: Oi, Gigi está falando aqui. Minha mamãe acordou tarde hoje, 26 de julho de 2015. Minha foto, viu? Tchau.

Valeu, minha escritora preferida!!


Monday, January 19, 2015

Mais uma lição: Todo adulto deveria ser criança

É incrível a sabedoria de uma criança. Ninguém deveria "crescer".

Hoje é dia de Martin Luther King e a data foi tema na escola da Gigi na semana passada.

A história de Dr. Martin Luther King, que quando pequeno não podia brincar no mesmo parquinho que as crianças brancas, a deixou inquieta e cheia de perguntas.

-          Branquinhos e pretinhos não iam para a mesma escola. Por que, mamãe?

Silêncio. Não há resposta. Como explicar a maldade?

E logo veio uma observação.

-          Ainda bem que hoje a gente pode brincar todo mundo junto.

Gigi tem amigos branquinhos, pretinhos, de olhos puxados, muçulmanos, imigrantes, norte-americanos… amigos de todos os jeitos e raças.

Mas a maldade do homem continua por aí. Que pena, minha filha!

Há discriminação por raça, cor, religião, opção sexual, classe social... E cada dia inventam uma nova 'categoria' para  justificar o ódio.  

Aliás, Gigi está muita próxima dessas mazelas inexplicáveis. Ela é filha de imigrantes, a minoria da vez nos Estados Unidos.

Só espero que a sabedoria do coração de criança continue na cabeça adulta da Gigi.

Ta'í! Acho que esse é o remédio da humanidade. Os adultos precisam ser mais crianças.

O grande perde a capacidade de se indignar diante do desespero do outro. É indiferente ao sofrimento alheio. E encontra desculpa para qualquer injustiça.

A mente do adulto sufoca o coração da criança. Está cheia de ódio e intolerância.

Eureca! A Gigi me dá mais uma lição.

Todos deveriam ser crianças para sempre!


Monday, March 31, 2014

Gigi começa a escrever a sua história

A vontade de aprender da Gigi é contagiante. Na ânsia de querer escrever e ler, ela improvisa. No alfabeto, ela troca as letras. Escreve outras de forma invertida e mescla o português com o inglês.

Uma confusão que traz a cada descoberta uma festa e desperta ainda mais o desejo de descobrir o que sifnifica "aquela fila de letras".

No início da pré-escola – equivalente ao jardim da infância do Brasil - ela escrevia Gigi. Tanto que nos primeiros dias de aula foi assim que ela escreveu o nome quando a professora pediu. Depois de seis meses, ela já traça nome e sobrenome: Giovana De Moraes.

Gigi também escreve o nome do pai, o meu e sabe as iniciais de pessoas mais queridas.

A pequena aprendiz insiste que eu soletre as palavras que ela quer escrever. A última foi amor, assim mesmo, em português, ainda que esteja sendo alfabetizada em inglês.

Eu me encanto e me assusto. Afinal, Gigi nem completou 5 anos e já forma palavras aletoriamente, escrevendo a sua própria história. Tenho uma vaga memória de que eu comecei essa aventura aos 6 anos.

Mas a surpresa não é apenas minha. Ao ler um artigo do pedagogo Marcelo Cunha Bueno, percebi que minha filha não é precoce, ela faz parte de uma geração.

A pressa é um sintoma dos tempos modernos onde a alfabetização começa já aos 3 anos. Entretanto, salienta o especialista, a iniciação antecipada não significa que a criança vai ser mais inteligente.

Nesse sentido, apenas deve-se respeitar o ritmo e as particularidades de cada criança.

Para os pais, Bueno avisa que não é necessária qualquer intervenção sistematizada e escolarizada em casa.

A nós cabe simplesmente o dever de incentivar essa vontade de desbravar o mundo das letras. A boa e velha leitura antes de dormir, por exemplo, aparece como um ótimo aliado.

Além disso, o importante é improvisar e ver em cada momento uma chance de ensinar e aprender. O outdoor durante o trânsito engarrafado pode trazer várias letras conhecidas. Com a Gigi dá certo.

E na curiosidade de aprender a ler e a escrever a lista de compras se transforma numa aula. Enquanto eu escrevo o que a gente precisa, Gigi faz a sua própria “relação de faltas”. Por enquanto, ela fica apenas nas iniciais dos produtos e o mais interessante é que pela primeira letra ela consegue lembrar do que precisamos levar para casa.

Essas 'brincadeiras' – avisa o professor Bueno – também devem respeitar as fases do processo e aprendizado em que as crianças começam a escrever com letras de forma maiúsculas, depois, passam a ler livros com letras de imprensa, até chegarem à letra cursiva.

Lembre-se que tudo acontece ao seu tempo e que cada criança segue um compasso diferente.

Wednesday, February 5, 2014

Entre sustos, os passeios noturnos da Gigi são inofencivos

Numa noite dessas levei um susto com o grito do Beto. Na verdade, foi ele quem se assustou com a Gigi em pé ao seu lado na cama.
Gigi estava, literalmente, dormido em pé. Eu a levei de volta para a cama, onde continuou embalada no sono. 
Em outro episódio, estávamos na sala e Gigi apareceu. Mais uma vez a levei para cama. Na manhã seguinte, ela não se lembrava de nada como nas outras vezes.
Mas na noite em que o Beto saiu do banheiro e se deparou com a Gigi, que já estava dormindo há horas, em pé no corredor, comecei a me preocupar.
Na última consulta com o pediatra eu já havia reclamado da relutância dela em dormir, do sono agitado e da mania de se mudar para a minha cama no meio da noite.  Mas o médico me tranquilizou e disse que Gigi está se desenvolvendo muito bem e que as horas de sono, ainda que abaixo do aconselhável, seriam suficientes para ela. No mais, era uma questão de disciplina.
Agora, os episódios de Gigi andar pela casa estão mais frequentes e eu comecei a ler sobre sonambulismo infantil. 
O sonambulismo, descrevem os especialistas, é um tipo de parassonia (manifestação noturna durante o sono) em que as funções motoras despertam, mas a consciência não e, assim, a pessoa interage parcialmente com o ambiente, podendo se mexer excessivamente, falar ou até “perambular” pela casa,  mas ela  não se lembra de nada na manhã seguinte assim como acontece com a Gigi. 
E isso é muito comum e mais constante entre as idades de 4 a 10 anos devido à imaturidade do sistema nervoso central, que ainda se encontra em intenso desenvolvimento. 
Pesquisas indicam que entre 15 a 30% das crianças já apresentaram pelo menos um episódio de sonambulismo. Os mesmos estudos revelam que com a chegada da adolescência, isso tende a diminuir sensivelmente.
Nesse caso, Gigi está apenas no início dos passeios noturnos uma vez que a minha pequena ainda não completou 5 anos.
Além disso, segundo o neurologista Álvaro Pentagna, cerca de 80% das crianças sonâmbulas têm histórias similares na família.  “É um distúrbio hereditário, mas costuma ter algo que desencadeia – geralmente barulho, som ou estímulo enquanto dorme”, explica.

E eu consigo me lembrar de algumas experiências da minha infância parecidas com os passeios noturnos da Gigi.  Tal mãe, tal filha.
Pentagna esclarece ainda que o conselho de que pessoa não pode ser acordada não passa de um mito. "Durante o sonambulismo, o despertar é confuso e agitado, mas pode ser feito. O ideal é ir com tranquilidade, falar baixo e conduzir a criança calmamente até um local seguro."
Os episódios de sonambulismo são breves e de frequência variável – podem durar segundos ou chegar a 40 minutos - dificilmente prejudicam a qualidade do sono.  “Procurar um médico é importante quando o distúrbio causar medo ou quando ocorrem situações de perigo. O quadro costuma melhorar naturalmente com o avanço da idade”, observa o neurologista.
Prevenção - Uma rotina de horário para dormir e acordar deve ser imposta para a criança. Evitar brincadeiras muito agitadas antes de dormir também favorece uma noite de sono mais tranquila.
Já o tratamento a base de medicação só é recomendado quando o sonambulismo prejudica o dia-a-dia da criança. Se os episódios ocorrerem de quatro a cinco vezes por noite ou cinco vezes na mesma semana o pequeno pode apresentar sinais claros de sonolência, alternando o humor ao longo do dia.

Wednesday, November 27, 2013

A chupeta virou uma bicicleta

Só hoje me dei conta de que ainda não registrei a tardia separação entre Gigi, aos 4 anos, e sua querida chupeta. Já faz um tempo, em junho mais precisamente.

Na verdade, a primeira tentativa aconteceu aos dois anos quando Gigi encontrava a chupeta apenas na hora de dormir. Mas eu acabei fraquejando e cedi num momento de choro.

Estávamos vivendo um período de muito estresse e resolvi não forçá-la. Me convenci de que Gigi abandonaria o bibi quando estivesse pronta, preparada.

Entretanto, a "hora h" começou a demorar demais. Além dos problemas de dentição e respiração que o uso da chupeta pode causar, os lábios da minha pequena começaram a ficar machucados e o bibi, já havia alertado o pediatra, era a principal causa.

Por coincidência, era início de verão e as crianças começaram a aparecer no pátio do condomínio com as bicicletas. Gigi queria muito uma e, mais uma vez, ofereci uma bicicleta em troca da chupeta.

Gigi, claro, não concordou.

Nesse momento, entendi que era preciso acelerar esse desapego e “perdi a chupeta”. Contei sobre o sumiço e disse que não compraria outra. Minha pequena  chorou inconsolável.

“Daqui para frente não vai ter mais chupeta, de jeito nenhum mas a gente pode comprar uma bicicleta, o que você acha?”

A contra-gosto, ela aceitou. Gigi é esperta, percebeu que a situação era irreversível e levou o prêmio de consolação.

Nos dias seguintes, na hora da birra, Gigi chorava e pedia pelo bibi. Logo, lembrava-se e dizia em voz alta "tô louca, esqueci que não tem mais bibi".

Nos momentos mais críticos, ela se perguntava: "E agora, como vou me acalmar?".

Com o tempo você se acalmou, Gigi. E agora pouco fala da chupeta.

E eu também me acalmei. Aprendi a contornar a situação sem recorrer ao bibi.