Monday, May 13, 2019

Feliz Dia, mãe imigrante

Feliz Dia para você que sussurra confidências com a barriga e descobre nela um bom ouvinte, muitas vezes o único e com certeza o mais próximo.

Que sente falta da sua mãe ao ver o tempo passar e o seu corpo mudar. O colo faz falta, mas de longe tira o prazer do momento.

Que  chega mais cedo para a consulta e na sala de espera procura no dicionário as melhores palavras para descrever tudo o que vem sentindo nos últimos dias. Fica apavorada só de pensar em deixar algum detalhe de lado, falar diferente e, assim, prejudicar o bebê.

E, claro, essa cena depois se repete em todas as visitas ao pediatra.

Feliz Dia para você que trabalha até o último minuto antes do parto e se surpreende com a “boa hora” que sai completamente diferente do roteiro planejado. O que deveria levar poucas horas, dura quase um dia. Tempo finito entre dor e ansiedade que o amor maior do mundo te faz esquecer (depois de alguns anos).

Feliz Dia para você que não tem direito de tirar licença maternidade e volta ao trabalho três semanas após dar a luz com aquela culpa de passar o dia longe do bebê. Liga para a babá toda vez que senta para tirar o leite. E "paga mico" com aquela lancheira térmica cheia de leite materno que te acompanha por onde você vai.

Feliz Dia para você que se desespera com as cólicas e as lágrimas, mas se derrete com os sorrisos.

Que toma banho mais ou menos porque toda vez que liga o chuveiro, ele chora e você sai correndo.

Feliz Dia para você que dorme com o bebê do lado, amamenta a noite inteira e sai para trabalhar como um zumbi na manhã seguinte cheia de saudade.

Que transforma o seu filho em mascote do trabalho e desenvolve a capacidade de cumprir tarefas com ele no colo. Se divide em mil profissões,  trabalha dobrado e fica sem tempo para se dedicar ao blog.

Feliz Dia para você que recorre ao Youtube para aprender matemática e descobre que lá no Brasil te ensinaram de trás para frente ou vice-versa. Que não perde um evento na escola mesmo sem ter tempo para pentear o cabelo.

Que se culpa por não dar tanto o quanto queria, seja em tempo ou bens materiais.

Feliz Dia para você que só fala em português com seu filho, o ensina a amar o Brasil e respeita a adoração dele pelos Estados Unidos.

Que diz para acolher os recém chegados, mas vê o coração dilacerado quando a maldade é resposta e a outra mãe diz que é coisa de criança.

Feliz Dia para você que enfrenta tantos desafios ainda desconhecidos por mim.

Feliz Dia,  mãe imigrante,  que vive na terra em que o tempo voa e as 24 horas são cada vez mais curtas para cuidar do filho, da casa e da vida.

Feliz Dia das Mães, brasileiras nos Estados Unidos.

Monday, March 4, 2019

Gigi tira A+ em generosidade

Eu não cobro que a Gigi seja A+. Não pressiono por médias altas. Tento mostrar que o importante é sempre dar o melhor de si ainda que o resultado não seja 100%. Incentivo que superar as dificuldades pode ser mais prazeroso do que tirar notas boas constantes.

Mas exijo sim, na escola e na vida, que ela seja boa. Doe seu tempo, seja solidária. Se esforce para ser justa. Isso, algumas vezes, pode ser mais difícil do que um cálculo complicado de matemática.

Seja honesta, nunca tire vantagem do outro e sinta compaixão por quem sofre. Um sorriso pode ser mágico.

Brinque com a gatinha que a espera chegar da escola ansiosa.

Seja educada e respeite os mais velhos ou qualquer outra pessoa.

Defenda os amigos e aqueles que ela nem conhece contra o bullying, palavra que está na moda e nem sempre entende-se o significado, mas sente-se, e fundo, na pele.

Engana-se quem pensa que criança é boa por natureza. São seres humanos em desenvolvimento e vivem a fase que ainda dá para modelar o caráter. Depois fica muito mais difícil.

E por tudo isso hoje senti um orgulho danado quando ela recebeu o certificado por ser carinhosa.

Ela foi escolhida para representar todas as salas da quarta-série da escola pelas características de sempre cuidar e se preocupar com o próximo.

Ah, Gigi, com o mundo do jeito que está, com tanta maldade espalhada por aí, você renova as minhas forças. Posso não acertar em tudo, mas estou fazendo alguma coisa certa.

I am very proud of you, my beautiful girl! Thank you for being my gift of God.

Wednesday, February 27, 2019

Governo proíbe menores de 13 anos de postar vídeos no Tik Tok

Gigi adora assistir e gravar vídeos no TikTok. Hoje, quando chegou da escola, e como é de costume, não demorou muito para pegar o celular para “brincar” no aplicativo, mas teve uma surpresa. As publicações desapareceram.

E isso não aconteceu só com ela. Todas as publicações de crianças foram excluídas após uma exigência da Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) que encontrou evidências de que o aplicativo chinês viola leis de privacidade de crianças do país americano.

A partir desta quarta-feira, 27, todos os usuários do TikTok têm que verificar sua idade no aplicativo e menores de 13 anos são direcionados para uma plataforma diferente, mais restritiva, que tem maior proteção de dados pessoais e não permite que as crianças publiquem vídeos no aplicativo. Isso significa que elas só podem curtir os conteúdos e seguirem usuários.

O aplicativo chinês também foi multado em US$ 5,7 milhões por ter coletado dados sensíveis de menores de 13 anos, como e-mail e localização, sem o consentimento dos pais, o que é proibido pela lei americana.

Segundo o órgão federal, o processo começou desde a época do Musical.ly, que foi encerrado em 2018 e a base de usuários dele foi transferida para o TikTok, e já violava a legislação de privacidade de crianças.

Para se inscrever no app, é necessário um endereço de e-mail, número de telefone, nome e sobrenome, uma pequena biografia e uma foto de perfil, informações que podem ser vistas por outros usuários da plataforma.

Além disso, até outubro de 2016 o Musical.ly (TikTok) usava dados de geolocalização para sugerir aos usuários perfis próximos a eles e as autoridades afirmam que os adultos usavam o aplicativo para falar com crianças.

O combinado aqui em casa era sempre me mostrar os vídeos antes de postar e assegurar que não houvesse qualquer indício da localização, como o nome da rua, por exemplo. Mas hoje vi que isso não era suficiente.

Agora, Gigi vai ter que esperar  três anos e dois meses. Para ela parece uma eternidade. Para mim, é rápido demais.

Curiosidade: O Tik Tok foi o quarto aplicativo fora da categoria de jogo mais baixado em 2018, ficando atrás apenas do WhatsApp, do Facebook Messenger e do Facebook. De acordo com a pesquisa, o aplicativo chinês teve um bilhão de downloads em 2018, 663 milhões só no ano passado.

Sunday, February 24, 2019

Descobri o porquê eu tinha que aprender matemática


Matemática sempre foi um terror para mim. Não foi por acaso escolhi a área de humanas depois de um vestibular vocacional que pouco precisava fazer contas. 

Passei para a faculdade de Jornalismo com o alívio de que nunca mais precisaria encarar aquelas regras cheias de letras e números. Dali para frente, cálculos básicos, no máximo, porcentagem, iriam ser os meus desafios.

Mas isso era só mais uma conta mal feita. Esqueci de contabilizar que para realizar o meu maior desejo teria que ter várias facetas e fazer muitas coisas de novo, até aquelas que nunca gostei.

A matemática é uma delas.

Como mãe, sou um pouco professora da Gigi. Mas em muitos momentos sou apenas colega de aprendizagem.

Nos Estados Unidos a matemática é diferente. E lembra aquela máxima da matéria que a ordem dos fatores não altera o produto? Não cola com a Gigi.

Eu tento explicar álgebra do meu jeito. E logo vem a reclamação: “Não foi assim que a professora ensinou”.

Questiono como ela explicou. E segue a resposta: “Não entendi”.

Problema armado, recorremos às aulas de matemática disponíveis no Youtube para a quarta série.

Assistimos juntas. Parece complicado. Mais uma vez. Procuramos outro vídeo. Facilitou.

Voltamos para o exercício. Lemos em voz alta. Gigi se distrai com o meu sotaque. Troco a leitura para o português. Chegamos ao resultado.

Próximo exercício. Agora ficou mais fácil.

Tarefa cumprida. Até a próxima lição.

Monday, November 26, 2018

Você já foi quantas hoje?

Dia desses parei para pensar quantas profissões acumulo ao longo do dia.

De manhã bem cedo começo a edição do Portal BM News. Primeiras notícias postadas, chega a hora do Conexão América, quadro que apresento no Bom Dia Manchete, da Rádio Manchete USA, às 7h20. Claro que a participação é por telefone porque ainda não desenvolvi o poder da teletransportação e o estúdio é longe.

As atividades de jornalista são interrompidas para a jornada de mãe. Por 40 minutos, sou merendeira, cabeleireira e motorista. Uma correria.

De volta ao trabalho “normal”, tenho seis horas para apurar e escrever mais matérias, produzir o programa de tv e finalizar outros compromissos.

Pronto. Hora de voltar ao trabalho de motorista. E quando pego a minha passageira, encaro a aventura de ser professora. É fato que quase sempre tenho que recorrer ao YouTube. Não sei porque ensinam a matemática ao contrário aqui. Tenho que reaprender a matéria em que sempre me dei mal.

No mesmo dia sou cozinheira, lavadeira e arrumadeira.

Ah, também dou plantão como psicóloga e sofro tanto com os problemas da minha paciente que quase acabo no divã.

Volto a ser jornalista. Muitas vezes Gigi tem que me acompanhar. Aliás, ela é uma ótima companheira.

Arrumo um tempo para ser manicure.

E ainda posso ser enfermeira tanto de criança como de bicho. Só não consigo ser médica nem veterinária. Os diagnósticos ficam por conta do Beto que é bom nisso por sinal.

Às vezes eu sou de tudo um pouco ao mesmo tempo. Em outras não dou conta.

Tuesday, September 11, 2018

A gente precisa falar do September Eleven

Hoje o clima está pesado. A TV não para de passar as imagens dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando dois aviões atingiram as Torres Gêmeas, em Nova York, e por pouco outro não acertou o Pentágono, em Washington. Foram 3 mil mortos e um marco na história dos Estados Unidos.

O tema é daqueles que você não quer que o seu filho veja. Dá vontade de tapar os olhos da Gigi para ela não saber que existe tanta maldade, mas eu sei que o assunto vai ser tratado na escola e eu não quero que ela seja pega de supetão. Então (re) contei o que aconteceu há 17 anos.

E não deu outra. Na volta para casa, Gigi me contou que assistiu um documentário sobre o ataque terrorista e questionou se eu sabia que os homens maus eram mulçumanos.

“Eu sei, Gigi”, respondi. E ao olhar a carinha dela pelo retrovisor percebi que prescisava dar uma resposta mais longa.

“Mas você sabe que a grande maioria dos mulçumanos são pessoas muito boas. É uma religião que prega o amor. Gente má e boa existe em todo lugar, inclusive na igreja que a gente frequenta, em qualquer religião”.

Embora ela tenha balançado a cabeça concordando, a questão do mulçumano ainda a incomodava. “Eles usam aquele pano na cabeça, tem barba grande”, observou.

“Mas nem todo mundo que usa pano na cabeça e tem barba grande é mau. Essas pessoas também sofreram na época porque todo mundo tinha medo delas. Você tem coleguinhas mulçumanos e você gosta muito deles, não é?”, acrescentei.

Ela continuou pensando.

Eu sei que esse e tantos episódios da história dos EUA são polêmicos e o currículo da escola segue a linha do patriotismo. Eu prefiro sempre conversar com a Gigi, discutir de uma maneira leve e preservar uma mente aberta.

Porque temo o terrorismo, mas também tenho pavor de preconceito e discriminação.

Saturday, August 11, 2018

Amamentação sem script

Nos últimos dias sempre que abro uma publicação ou rede social me deparo com alguém falando sobre amamentação. Tudo isso, claro, porque desde 1992 o mundo celebra esse tema na primeira semana de agosto e ano passado o Brasil instituiu o Mês Dourado, tempo de lembrar a importância do aleitamento materno.

Eu poderia listar uma série de benefícios de amamentar exclusivamente o bebê até os seis meses e como complemento até os dois anos de idade. Tudo isso é cientificamente comprovado, mas o corpo de cada mãe é peculiar, cada uma sabe o seu limite e nem tudo é dourado.

E quero falar sobre isso. Em uma dessas leituras, uma amiga reclama da sua frustração diante de tantos depoimentos cor-de-rosa. Ela sofreu, o leite empedrou, sentiu dor e a amamentação não seguiu tão longe.

Muitas mães passam por isso. São histórias bem reais e cada uma tem a sua, sem script.

A minha história foi cheia de altos e baixos, bem diferente de um conto de fadas. Eu mal sabia pegar a Gigi no colo, esqueceram de mandar o manual de uso junto com o bebê.

No nosso primeiro contato, os meus seios não tinham o bico formado ainda que eu tivesse feito todas as massagens que me recomendaram. O meu corpo simplesmente não respondeu.



Eu tentava, ela tentava e a boquinha escorregava. Com fome, sempre faminta, Gigi não tinha paciência e eu ficava desesperada.

Foi assim que conheci o bico de silicone. Muita gente falou para eu não usar porque Gigi não se adaptaria mais apenas ao peito.

Mas não foi assim conosco. Aos poucos, o bico do meu seio foi se transformando e dispensei a silicone, numa transição tranquila para a Gigi e sem dores para mim.

Para a nossa sorte, eu tinha muito leite. E quando Gigi estava comigo, a hora de mamar era quando o meu peito enchia, ainda que as tais três horas não tivessem passado.

E, sim, com todas as contra-indicações, ela dormia na cama comigo e mamava a noite inteira. 

As críticas entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Eu sabia do meu limite. De que teria que acordar cedo e sair para trabalhar no dia seguinte. 

O meu corpo precisava daquelas horas de sono que muitas mães podem dispensar para sentar na cadeira enquanto amamentam, esperar o tempo do bebê voltar a dormir e ir para a cama.

Para mim, isso definitivamente não funcionava.

Voltei para o trabalho depois de três semanas do nascimento da Gigi. Aqui nos Estados Unidos se você é mãe que trabalha fora tem duas opções: ou tira férias não remuneradas para cuidar do bebê sem garantia de ter o emprego de volta ou retorna ao trabalho – depois de duas semanas - e coloca o seu filho aos cuidados de outra pessoa.

Eu tive que fazer a segunda escolha. E olha que a organização para a qual eu trabalhava foi boa e me pagou por duas semanas afastada. A terceira foi por minha conta. Mas isso é assunto para outra hora.

Eu passei a deixar a Gigi com a babá (já contei esse episódio aqui) e durante o dia tirava o leite com uma maquininha elétrica portátil que eu carregava por onde eu fosse sem o meu bebê. Eram de três a cinco mamadeiras garantidas para o dia seguinte da minha bezerrinha. Como mamava essa menina!

E esse foi outro mito que tive que superar. Se ela mamar na mamadeira, não vai voltar para o peito. Mentira. Ou pelo menos conosco não foi assim.

Gigi mamava o dia inteiro o meu leite na mamadeira e quando eu chegava para buscá-la na babá, ela pedia e eu a amamentava antes de sair. Os olhinhos reviravam toda vez que ela encostava a boquinha no meu seio. E como eu gostava daquela sensação e da mãozinha no meu coração.


Aliás, esse é outro ponto. Nunca tive vergonha de amamentar em público. Com toda a discrição, alimentava a minha filha até quando ela ia para o trabalho comigo. Durante reuniões, lá estava eu amamentando, às vezes andando pra lá e pra cá. Claro que, mais uma vez, tive sorte de estar trabalhando para uma ONG de mulheres e sobre isso todas nós nos entendemos muito bem.

E durante esse vulcão de emoções, que é o início da maternidade,  há ainda o fantasma da questão estética. Não, o meu peito não caiu. Pelo contrário, a amamentação foi a dieta mais eficaz da minha vida. Fiquei magrinha e com os seios fartos.

O espanto veio mesmo quando parei de amamentar (reveja aqui) depois de quase dois anos. Me olhei no espelho e tive a sensação de ter retornado à adolescência a tal ponto de reduzir o número do sutiã. Confesso que ri para não chorar.

Mas foi por pouco tempo. Em semanas, os seios voltaram ao normal e eu consegui manter o equilíbrio na balança.

Enfim, essa foi só a minha experiência, bem diferente de um conto de fadas. Apenas mais um capítulo da história real da Mamãe da Gigi.