Monday, October 2, 2023

Qual é a sua religião?

 Sempre acho difícil falar sobre religião porque a gente mexe com as crenças dos outros. Cada um tem o direito de acreditar no que quiser.

Mas parece que isso vira sempre tema em qualquer lugar. Por exemplo, se vai ao médico, questionam a religião. Na escola, querem saber se é católico, evangélico ou tantas outras crenças que existem por aí. 

Você foi batizada ainda bebê na igreja Católica assim como eu e seu pai, mas não fez catequese. Aos 9 anos teve o batismo da Batista. Você pediu, seu pai concordou e eu aceitei. 

Os cultos do pastor, um amigo e pessoa do bem, traziam boas palavras. Na vida precisamos muito disso. 

Já fomos ao Centro Espírita onde você aprendeu uma lição que me ensinou e eu repito todos os dias para te lembrar: Essa roupinha é emprestada. Ou seja, o nosso corpo nos foi cedido para fazer a passagem por esse mundo e, por isso, temos que cuidar muito bem dele. 

Eu entendo que religião é uma escolha que você deve fazer quando tiver consciência. 

A minha avó, dona Mirtes, era uma mulher de muita fé. Eu queria que você a tivesse conhecido.  Ela nos levava à igreja Católica e no seu diário ela escreveu: mostrei o caminho da igreja, mas quem vai decidir a religião que vão seguir são vocês quando tiverem entendimento. 

Eu optei por nenhuma. Acho o Papa Francisco muito legal, o Padre Júlio Lancellotti um exemplo, o Pastor Nassiff superinteligente e Allan Kardec tem uma luz excepcional. 

Mas mesmo assim não me convenço a aderir a uma religião. Não me identifico 100% com nenhuma, talvez tenha mais proximidade com o espiritismo. Mas tem cada charlatão, é preciso ter cuidado. 

E as religiões não param por aí. Tem muito mais: islamismo, judaísmo, candomblé etc. 

Então eu só posso te ensinar o que eu acredito. Em um Deus bom e na nossa obrigação de fazer o melhor sempre. 

Deus não castiga, as nossas escolhas são responsáveis por nos levar a caminhos tortuosos. Somos livres e responsáveis pela nossa vida.  

Um dia você vai escolher a sua religião, ou não.

Deixo aqui registrado um vídeo em que você, aos 9 anos,  imita o Pastor Nassiff num culto, mas reproduz o ritual de uma missa. Com o detalhe de que lê uma bíblia para criança em português sem nunca ser alfabetizada neste idioma, mais um desses dons que eu acredito ser presente de Deus.

A sua infância foi assim, cheia de experiências. Espero que a ajude a ser um ser humano do qual o mundo precisa. 

Tuesday, July 11, 2023

Já vou!

Perdi as contas de quantas vezes você fala "já vou" por dia. É uma fase! Disso eu sei, mas até quando? 

Fico esperando o dia mágico em que você vai parar de procrastinar e abrir mão da frase "daqui a pouco eu faço". 

Mas lendo relatos de outras mães me senti acolhida. Eu não sou a única que acorda o cumprimento de uma tarefa que acaba não sendo feita, levando a mais uma discussão. 

É coisa de adolescente, dizem os especialistas.

Eles garantem que a procrastinação é mais uma características dessa faixa etária, assim como a preguiça. Aliás, essas duas andam juntinhas. 

Situações cotidianas como arrumar o quarto, passear com os cachorros e escovar a gata viram tema para uma briga que termina comigo fazendo o não feito porque você "esqueceu". 

Acumular mais uma tarefa, por menor que seja, para uma mãe que já está sobrecarregada é tão exagerado quanto a reação que você enxerga diante de um trato não cumprido. "Você está louca", chegou a me dizer. 

Mas a vida ensina, sempre te digo isso. Com as mães não é diferente. 

Há pouco tempo li o relato de uma mulher que passou a ficar na frente do filho até que ele fizesse a tarefa. Adotei a tática. 

Está certo que nem sempre dá para fazer isso e você, claro, não gostou. Mas funciona. 

E, acredite, é mais cansativo para eu insistir tantas vezes do que sair para andar com os cachorros ou guardar a louça. 

Aliás, se seguisse aquela To Do List que fizemos outro dia, eu não precisariam mandar nada, coisa que te irrita tanto. 

Se vai ter que fazer, por que deixar para depois? 

 

Tuesday, June 13, 2023

Erros fazem parte da lição

Eu sempre quis ser um exemplo de força e de mulher para você seguir e falhei muitas vezes. Falho o tempo todo. 

Mas essa noite, pensando bem, os meus erros também te ensinam. Você pode ser o que quiser, Gigi. 

Você também vai errar muito, tanto ou mais do que eu. Quem sabe menos.

A trajetória nesse plano é assim. Cheia de vitórias e derrotas. Eu ganhei muitas batalhas e perdi outras. 

Você, com certeza, é o símbolo da minha maior vitória. Meu sonho era ser mãe. 

Eu não consegui ser a mãe que eu queria ser. Essa ainda é uma constante luta e às vezes me dá uma sensação de fracasso. Mas estou sendo o melhor que posso, prometo.

Minha paciência é curta,  sua astúcia engole o meu poder de persuasão e eu não conquistei tudo o que eu queria para te provar que é possível. 

Eu queria ter evitado muita coisa e proporcionado tantas outras. 

Mas até quando me falta coragem, ânimo e força, preste atenção. Estou te ensinando. 



Monday, May 29, 2023

A dor do outro machuca

Outro dia você chegou chorando da escola. Você literalmente explodiu após ver um colega ser vítima de bullying por sucessivas vezes. A gota d’água foi quando ligaram as atitudes do garoto “consideradas esquisitas” ao autismo. 

Duas coisas te incomodaram: o fato de uma pessoa não ser considerada “normal” porque tem atitudes diferentes e o uso indiscriminado (e pejorativo) do termo autista. 

Você lamentou mais ainda pelo colega que nem entendeu que foi motivo de chacota. 

Você está certa. Autismo não é xingamento, é uma condição neurológica que faz as pessoas reagirem aos estímulos de forma diferente do que a sociedade geralmente aceita. Há graus mais leves outros bem intensos. 

E quando há tanta informação sobre o assunto, por que usam isso para “tirar sarro” de alguém?

A alta do número dos diagnósticos também deveria gerar mais empatia. Há muito mais pessoas co Transtorno do Espectro de Autista (TEA) por aí do que se imaginava.

Em 2000, os Estados Unidos registraram um caso de TEA a cada 150 crianças observadas. Em 2020, houve um salto gigantesco: um caso do transtorno a cada 36 crianças. 

As estatísticas são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que divulgou a atualização em abril — já que os dados são sempre anunciados pelo menos três anos após a coleta. 

E qual é o problema de ter mais autistas? Os outros.

Nem a escola soube lidar com a situação. 

Embora tenham te acolhido, entendido a razão de você ter tentado ofender os bullies com expressões que não passaram de “burros e mal amados”.

Não houve uma discussão sobre autismo, diferenças e empatia. No máximo ocorreu uma “bronca” que só faz os teens rirem e não os coloca a pensar. 

Os pais nem foram notificados. Soubemos por você. 

Eu sei que isso te fez sofrer e que você foi alvo de bullying nos outros dias.

Só preciso dizer que fazer o certo exige coragem. Estou ao seu lado e tenho muito orgulho de você. 



Saturday, May 6, 2023

A vida real de mãe de adolescente tem muita conversa e pouco resultado

Já te perguntei como faço para me comunicar com você, né Gigi? A gente conversa muito, acho que temos uma relação de amizade e confiança bem sólida. Você fala que eu sou a sua melhor amiga e tenho um orgulho danado disso. 

Mas por que então você não me ouve?

Os psicólogos, terapeutas e toda a leitura de psicologia que encontro dizem que é preciso diálogo. E nós temos. Mas da teoria para a prática: como fazer você - e talvez qualquer outro adolescente - entender que o papo é sério. 

Acreditava que tanta informação, apelo à beleza e à saúde seriam os meus aliados. Mas no dia-a-dia parecem insuficientes.

Coisas simples como a importância de beber água. Lembra desse post?

A gente continua na luta para você compreender os inúmeros benefícios da água para o seu organismo. E você só encara um copo aos berros e chantagens, totalmente contraindicados pelos especialistas. 

Os outros

Outro dia você acordou me pedindo para comer uma cenoura crua logo cedo, foi tomar o sol da manhã e, para minha surpresa, bebeu água!

Isso porque viu uma influenciadora digital fazendo. A empolgação, no entanto, durou um dia e me fez pensar que você não é tão influenciável assim. 

Na semana seguinte tentei usar da mesma metodologia. Aliás, uma sugestão do seu pai que adorei. Gravei um vídeo para orientá-la sobre os cuidados para se recuperar da gripe e te enviei da cozinha, onde eu estava, para o seu telefone no quarto, onde você estava.

O resultado foi muita risada, a crítica de que eu devia ter começado o vídeo com “meus amores” e  (só) um dia de muita água. 


Monday, April 3, 2023

Da promessa à coragem de doar sangue

Eu já contei sobre a suspeita do câncer de mama que me assombrou no ano passado. Hoje eu comemoro como isso me transformou em uma pessoa mais corajosa. 

O medo de ter uma doença grave me levou a fazer a promessa de me tornar uma doadora de sangue,  atitude que eu queria ter tomado há algum tempo. Me faltava coragem.

Parece uma coisa boba se eu não tivesse o pavor de fazê-lo. Eu tenho horror a exame de sangue. Não é que eu sinta dor, é uma sensação ruim mesmo.

Sabendo de todos os benefícios, é possível salvar três vidas com uma só doação,  eu não demoraria 34 anos para fazê-lo. Sempre me faltou coragem. 

Por várias vezes planejei ir ao encontro de um ponto da Cruz Vermelha e acabava deixava para depois.

Mas dessa vez eu prometi e não tinha saída: era vencer o desafio ou nada. Doei a minha primeira bolsa de sangue há pouco mais de uma semana.

No geral, foi fácil. Em menos de dez minutos a bolsinha estava cheia e eu ia levar menos de 40 minutos entre triagem e doação, se eu não tivesse levado uma rasteira da minha própria mente.

Eu já estava pronta para ir embora quando comecei a sentir uma vertigem e as mãos começaram a formigar. Nada tinha a ver com o ato de doar, era o pavor mesmo. Me recuperei logo.

A verdade é que senti muito orgulho de mim. Superei um desafio, cumpri uma promessa e ajudei pessoas. Tudo de uma vez só.

Essa sim é uma sensação boa. 

Você também gostou da minha atitude, Gigi, e quer ser doadora. Isso só vai acontecer daqui a dois anos porque a idade mínima é 16 anos, e ainda assim com autorização de um responsável. No Brasil leva um tempo maior, começa aos 18 anos.

Mas nos dois países, desde que você tenha uma condição de saúde boa, pode ser doadora até o resto da vida.

O peso também é um fator determinante: 50 kg no Brasil e 110 pounds nos Estados Unidos, ou seja, a mesma medida.

E nesse ponto tenho uma confissão a fazer: meu lado medroso torceu para que eu estivesse abaixo do peso. Quase me faltou coragem.  No final das contas ainda bem que não estou tão magrinha.

Resolvi ser doadora pelo menos uma vez ao ano. Estou lutando contra o meu medo para dobrar essa meta. Quem sabe eu não descubra que posso ser ainda mais valente?

Wednesday, March 8, 2023

Minha adorável feminista

Ufa! Nem acredito que deu tempo de registrar hoje o quanto me orgulho de você. Tinha que ser no Dia Internacional da Mulher porque é sobre isso. 

Não sei se fui eu quem te ensinei, se você aprendeu com a vida ou se você nasceu assim: feminista. 

Você torce o nariz diante de um comentário machista que cerceia, por exemplo, o nosso direito de nos vestir como quisermos. Nem concorda quando alguém define o que é trabalho de homem e de mulher. 

Você defende que meninas e meninos tenham os mesmos direitos e acha um absurdo que alguém possa conseguir um emprego ou ganhar mais porque o currículo mostra masculino ao invés de feminino. 

Eu acho que posso dizer com tranquilidade que você sabe que o seu lugar é onde você quiser. E ainda que não seja fácil, vai conseguir.