Monday, April 3, 2023

Da promessa à coragem de doar sangue

Eu já contei sobre a suspeita do câncer de mama que me assombrou no ano passado. Hoje eu comemoro como isso me transformou em uma pessoa mais corajosa. 

O medo de ter uma doença grave me levou a fazer a promessa de me tornar uma doadora de sangue,  atitude que eu queria ter tomado há algum tempo. Me faltava coragem.

Parece uma coisa boba se eu não tivesse o pavor de fazê-lo. Eu tenho horror a exame de sangue. Não é que eu sinta dor, é uma sensação ruim mesmo.

Sabendo de todos os benefícios, é possível salvar três vidas com uma só doação,  eu não demoraria 34 anos para fazê-lo. Sempre me faltou coragem. 

Por várias vezes planejei ir ao encontro de um ponto da Cruz Vermelha e acabava deixava para depois.

Mas dessa vez eu prometi e não tinha saída: era vencer o desafio ou nada. Doei a minha primeira bolsa de sangue há pouco mais de uma semana.

No geral, foi fácil. Em menos de dez minutos a bolsinha estava cheia e eu ia levar menos de 40 minutos entre triagem e doação, se eu não tivesse levado uma rasteira da minha própria mente.

Eu já estava pronta para ir embora quando comecei a sentir uma vertigem e as mãos começaram a formigar. Nada tinha a ver com o ato de doar, era o pavor mesmo. Me recuperei logo.

A verdade é que senti muito orgulho de mim. Superei um desafio, cumpri uma promessa e ajudei pessoas. Tudo de uma vez só.

Essa sim é uma sensação boa. 

Você também gostou da minha atitude, Gigi, e quer ser doadora. Isso só vai acontecer daqui a dois anos porque a idade mínima é 16 anos, e ainda assim com autorização de um responsável. No Brasil leva um tempo maior, começa aos 18 anos.

Mas nos dois países, desde que você tenha uma condição de saúde boa, pode ser doadora até o resto da vida.

O peso também é um fator determinante: 50 kg no Brasil e 110 pounds nos Estados Unidos, ou seja, a mesma medida.

E nesse ponto tenho uma confissão a fazer: meu lado medroso torceu para que eu estivesse abaixo do peso. Quase me faltou coragem.  No final das contas ainda bem que não estou tão magrinha.

Resolvi ser doadora pelo menos uma vez ao ano. Estou lutando contra o meu medo para dobrar essa meta. Quem sabe eu não descubra que posso ser ainda mais valente?

Wednesday, March 8, 2023

Minha adorável feminista

Ufa! Nem acredito que deu tempo de registrar hoje o quanto me orgulho de você. Tinha que ser no Dia Internacional da Mulher porque é sobre isso. 

Não sei se fui eu quem te ensinei, se você aprendeu com a vida ou se você nasceu assim: feminista. 

Você torce o nariz diante de um comentário machista que cerceia, por exemplo, o nosso direito de nos vestir como quisermos. Nem concorda quando alguém define o que é trabalho de homem e de mulher. 

Você defende que meninas e meninos tenham os mesmos direitos e acha um absurdo que alguém possa conseguir um emprego ou ganhar mais porque o currículo mostra masculino ao invés de feminino. 

Eu acho que posso dizer com tranquilidade que você sabe que o seu lugar é onde você quiser. E ainda que não seja fácil, vai conseguir. 

Friday, February 24, 2023

Aquela coceirinha se chama dermatite atópica

Finalmente descobrimos o que são essas erupções que aparecem na sua pele, né Gigi? A boa notícia é que temos o diagnóstico - dermatite atópica; e a má é que há pouquíssima informação sobre o assunto ainda que um monte de gente no planeta tenha o mesmo problema. 

De acordo com a Associação Nacional de Eczema, cerca de  16.5 milhões de adultos têm dermatite atópica nos Estados Unidos e os sintomas aparecem na primeira infância. 

Já no Brasil, o distúrbio dermatológico afeta de 15% a 25% das crianças e cerca de 7% dos adultos, contabiliza a Sociedade Brasileira de Dermatologia.

O principal sintoma é uma irritação na pele que, normalmente, aparece nos braços e atrás dos joelhos, mas também pode ocorrer em qualquer lugar e incomoda bastante. 

Ultimamente, as suas mãos têm sido o alvo.

No entanto, os seus primeiros eczamas surgiram ao redor da boca quando você tinha uns seis meses. O pediatra explicou que era um resposta do organismo a sua própria saliva provocada pelo contato com a chupeta.  Uma pomada de hidrocortisona aliviava o desconforto, mas não resolvia o problema. 

Aos 2 anos sofria com a boca machucada, mas não deixava a chupeta

Quando finalmente você largou o bibi aos 4 anos, a reação deu uma trégua. 

Uns seis anos depois reapareceu. E dessa vez na parte de trás dos joelhos e nas dobrinhas dos cotovelos. Mais uma vez a pomadinha ajudava. 

Na pré-adolescência, a dermatite atacou com intensidade nas pernas e com mais frequência nas mãos. 

Para a nossa sorte, o seu grau é leve. Tem gente que forma feridas e até sangra, além de vir associada a outras doenças como asma brônquica e rinite alérgica. 

Assim como não tem uma causa comprovada, não há cura. A solução é evitar os gatilhos como substâncias irritantes (poeira, conservantes, produtos de limpeza e usados na lavagem das roupas), tecidos de lã e sintéticos, frio intenso, ambientes secos, calor e transpiração, além do estresse emocional.

Trocando em miúdos, em qualquer situação há espaço para a dermatite atópica. Se o ambiente está sujo as manchas aparecem assim como quando se faz uso de produto químico de limpeza.

Se está calor, coça. Se faz frio, irrita também. 

Segundo a Academia Americana de Dermatologia, os alimentos não causam a dermatite atópica, porém, alguns estudos sugerem que alergias alimentares podem piorar a condição. Por isso, é importante prestar atenção no que comeu nas horas de antecederam a reação alérgica e evitar os conservantes.

Para fugir da coceira,  vale a pena diminuir o catchup e a Nutella, ou não?

Outra parte importante do controle está no cuidado da pele com hidratação constante, usando cremes focados em peles sensíveis e secas logo após o banho (rápido e morno, nunca quente) para ajudar a manter a umidade da pele.  

E se mesmo assim uma crise surgir só um antialérgico, com prescrição médica, claro, é capaz de aliviar.

A dermatite atópica tende a se tornar menos intensa na fase adulta, podendo desaparecer em 75% dos casos. Espero que esse seja o seu caso. 

Até lá, bora se cuidar.



Monday, February 6, 2023

Suspeita de câncer revive lição dada aos cinco anos

Há alguns meses fui supreendida com a presença de um nódulo no seio esquerdo. Aos 41 anos, foi a minha primeira bateria de exames desse tipo e levei logo esse susto. 

Nos Estados Unidos, recomenda-se que a mulher saudável faça essa investigação após os 40, exceto quando há histórico familiar ou surja um carocinho do auto-exame. Não era o meu caso. 

Aliás o meu nódulo nem apareceu na mamografia justamente pela densidade da mama jovem e muito menos eu poderia sentí-lo ao apalpar o meu seio. Mas o danado de 1 cm , muito pequeno, foi visto na ultrassonografia e confirmado no doppler colorido. Dessa vez, já na categoria 4, quando há índicios fortes da presença de câncer. 

Aí sim, literalmente, tremi porque me deu medo, Gigi. Eu enfrentaria qualquer tratamento, mas sentia calafrios só de pensar que estaria menos presente ou poderia faltar para você.

Após o baque inicial, a médica explicou que o resultado inspirava cautela já que não havia outro exame para servir de comparação. 

Por isso, o tira-teima exigiu a biópsia que, felizmente, me trouxe alívio. 

Trata-se de fibroadenoma mamário benigno que, claro, deve ser acompanhado e os exames repetidos daqui seis meses. 

Durante esse processo todo, você nem percebeu o que estava acontecendo. E nem precisava porque, graças a Deus, de fato não existia uma doença. 

Mas até sem saber, nesse momento você foi fundamental. Eu refleti a cada segundo sobre uma aula que você me deu quando tinha apenas 5 anos. 

Após uma palestra no Centro Espírita, você aprendeu e repetiu milhares de vezes que o nosso corpo é apenas uma roupa emprestada e, por isso, deve ser muito bem cuidada. 

Vou cuidar mais todo dia, prometo que aprendi a lição.



Tuesday, January 24, 2023

Ciência: Adolescente tem mais preguiça

Estou até com medo de que você leia esse texto, mas é ciência de verdade. Descobri que os adolescentes, em geral, sentem mais preguiça do que as pessoas de outras faixas etárias.

A psicóloga Mônica Geraldi Valentim, doutora em pediatria pela Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista), fez um estudo sobre isso.

Ela explica que as transformações pelas quais o corpo passa durante a adolescência causam um consumo energético grande, que estaria por trás dessa inércia. “Teoricamente, os adolescentes precisariam dormir um pouco mais".

Segundo a psicóloga, existem também evidências de que os adolescentes sofrem um atraso no início de secreção da melatonina, o hormônio envolvido na indução do sono e há de se considerar ainda a condição física ou mental. 

Entre as causas patológicas, algumas alterações orgânicas, como anemia por carência de ferro e hipotireoidismo (deficiência do hormônio da tireoide), também podem provocar apatia e falta de vontade de desempenhar as atividades diárias.

Mas e como justificar a preguiça seletiva? Cerca de 62% dos jovens ouvidos pela psicóloga declararam ter preguiça de fazer as tarefas domésticas; contudo, mais de 70% assumiram que jamais têm preguiça de namorar ou de sair com os amigos.

Sim, tem explicação até para isso.  Primeiro é a fuga das atividades consideradas chatas. Depois “é preciso preservar energia para atender às demandas de crescimento e aquisição de conhecimentos e aptidões necessários para a futura formação de pares reprodutivos”.

E as respostas não param por aí. 

Danielle Herszenhorn Admoni, especialista em saúde mental da infância e adolescência do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que a preguiça também pode fazer parte da atitude de questionamento dos adolescentes diante dos adultos.

“Eles se dão o direito de não fazer determinadas atividades, que os adultos só fazem por se sentirem obrigados socialmente”, observa Danielle. Ou seja, diante de um quarto bagunçado que deixaria qualquer adulto envergonhado, o jovem simplesmente afirma: “Está bom para mim”.

E isso pode causar e causa conflito. 

Afinal de contas, todos temos que assumir responsabilidades. Não dá para viver com montanhas de roupas sujas pelo quarto nem andar pulando o coco do cachorro pela casa.  

Por isso, o que os especialistas dizem, e eu concordo, é que o jovem precisa ser estimulado a ter disciplina em sua rotina e contar com horários regulares para todas as atividades diárias, incluindo as horas de sono, as refeições e a prática de esportes.

Anotou? Então vamos colocar em prática porque eu também tenho que me render ao ócio de vez em quando.


Monday, January 9, 2023

Do Blog para o Rádio

Hoje nosso blog inicia uma nova jornada, Gigi. Vamos nos transformar em um bloco de programa de rádio. 

Agora vou poder dividir as nossas histórias com os ouvintes na Manchete USA. Estou muito ansiosa e orgulhosa. 

Se no começo você torcia o nariz, agora, assim como eu, acha divertido que os nossos momentos cheguem a mais gente.   

Eu adoro escrever sobre nós porque a memória capricha nos detalhes. Consigo visualizar as cenas e repetir os diálogos. É como reviver cada momento. 

E parece que quanto mais tempo passa, mais gostoso fica de lembrar. Será que isso só acontece comigo? 

Só sei que aqui no meu ouvido tem um anjo soprando: Do rádio para um livro, vai ser um pulinho.


Tuesday, January 3, 2023

Um ano de recomeço

Ano novo, página nova. Literalmente. 

Na noite de 31 lá veio você com um caderno para definirmos os objetivos para 2023. 

Os seus já estavam prontos. Não chegam a dez, mas são ambiciosos. 

Gostei de todos e acho que alguns vão me fazer ter mais calma. Lembre-se que escreveu: mantain clean room e do well in school. 

A minha lista preenchi com dez goals com a intenção de realizar todos. 

O seu pai já foi mais longe. Se ele alcançar todos, vai ser o melhor ano do século. 

O interessante é que nós três traçamos muitos pontos em comum, sem combinar. Na minha teoria,  probabilidade de acontecer aumenta afinal vamos buscar juntos.

Por outro lado, nada de ansiedade, Gigi. Olha só o que a terapeuta Monika Libório Walker me disse: "A lista de objetivos é uma orientação. Seguir à risca pode provocar ansiedade e desesperança quando as coisas não acontecem".

Então respira fundo e embarca nesse recomeço.