Amor de bicho

As dermatites são um desafio para você, Gigi. Incomodam e machucam. 

Recentemente, um teste apontou que, entre outras, você tem alergia a pelo de cachorro e temos dois. Nem cogitamos a possibilidade de ficar longe deles. Muita gente resolve doar o pet diante de uma situação dessas. Não é o nosso caso. 

A saída, então, seria usar luvas na hora de brincar com eles. Mas nem sempre é possível. Aliás quase nunca. 

O que fazer quando está assistindo TV e derrepende o Bob - nosso Manchetão -  aparece para dividir o sofá? E além disso resolve to hold your hands e não soltar mais?

O ataque de alergia a gente resolve depois porque essa dose de carinho cura a alma. 

SERVIÇO: 

Dica dos especialistas para amenizar os efeitos colaterais da alergia ao peludo:

1. Mantenha uma área livre de cães: essa é uma prática recomendada para todos os tutores, mas especialmente para aqueles que têm alergia a cachorro. O ideal é que em sua casa haja um local onde o peludo não é bem-vindo. De preferência, o quarto e a cama devem estar longe do alcance do pet. 

2. Faça faxina com frequência: a alergia a pelos de animais podem até não ser a causa principal da reação alérgica, mas os pelos geralmente são os grandes vilões. Para evitar crises frequentes é indicado realizar faxinas rotineiras, de preferência com o aspirador de pó. Dessa forma, você deixa o ambiente livre dos temíveis alérgenos. 

3. Depois da brincadeira, hora do banho: mesmo que você mantenha todo o ambiente limpo, seu amigo ainda será uma bola de pelos ambulante, carregando muita energia e, infelizmente, muitos elementos alérgenos. 

E quando o pai fica doente?

A gente sempre pede à Deus para que o filho nunca fique doente. Pelo menos eu sempre digo que prefiro adoecer no seu lugar, Gigi. Mas e quando isso acontece? É tão assustador quanto porque me assombra como você, filha, vai ficar. 

Eu estou bem, mas seu pai ficou doente e esse medo me bateu mais forte. 

Recentemente ele foi diagnosticado com um câncer de próstata e como o tumor já estava em 5 cm, foi necessário fazer uma cirurgia para a retirada do órgão. Ele sentiu e ainda sente medo, mas está enfrentando da melhor maneira que consegue. Ainda há um caminho pela frente até a certeza da cura. 

Mas essa situação não é uma exclusividade da nossa família. Segundo um levantamento recente, "diagnósticos severos, ameaçadores à vida ou crônicos são uma realidade frequente para pais de crianças e adolescentes em todo o mundo".

Nos Estados Unidos, estima-se que 14% das pessoas diagnosticadas com câncer têm filhos menores de idade, que são as pessoas que sofrem os maiores impactos. 

Você faz parte dessa estatística e é preciso manter a serenidade. Por outro lado, nós temos a obrigação de ser honestos em relação a tudo o que está acontecendo porque você percebe as alterações na rotina da casa, a mudança no nosso comportamento, o surgimento de medicamentos e as sistemáticas visitas a médicos.

Sem informações claras, você poderia tentar advinhar o que está ocorrendo e possivelmente criaria cenários mais terríveis do que a realidade.

É claro que o ambiente está mais tenso e eu entendo que você também está, Mas a vida, graças a Deus, continua.  Por isso, temos que buscar viver um dia de cada vez e respeitar os limites de cada um. 

Eu sei que não é apenas a doença do seu pai, também tem a doença e morte da sua avó. Muita coisa mudou na sua vida e você deixou de fazer tantas coisas que gostava e queria. Você se sente sozinha e as incertezas do futuro te incomodam.

Tudo isso não é fácil, mas faz parte da vida e a gente, diariamente, tem que aprender a viver. 

Estamos juntos. 

Você só tem ela?

Encontrei o desabafo pra lá de engraçado da atriz Mônica Martelli  sobre ser mãe de filha única e me identifiquei. Confesso que não me incomodo com as perguntas usais como "Você só tem ela?" e "É filha única?". Na verdade eu nunca tinha pensado nisso. 

Mas algumas neuroses às vezes me atormentam. Eu penso como vai ser o dia que eu ficar velhinha. E se eu adoecer e te dar muito trabalho? A geração sanduíche - quando os filhos cuidam dos pais e dos próprios fillho - tem sofrido de sobrecarga. Isso é, inclusive, questão de saúde pública. 

Por outro lado, penso no dia que eu fizer a passagem. Até lá espero que já tenha uma família formada ou uma rede de amigos que te dê o apoio que  eu acho que só eu sei te dar. 

Talvez a Mônica tenha uma maneira divertida de ver essas coisas também e me faça rir como nesse vídeo sobre ser mãe de uma [só] . 

Aliás, concordei com tudo o que ela falou, inclusive que você pode escolher a família que quer ou não formar. Você é singular e livre. 

E olha como você é única, filha. Embora eu não tenha mais filhos, você tem os seus irmãos, todos mais velhos. A caçula do seu pai.

Donas do nosso tempo

Saímos de uma temporada de provas. Digo saímos porque sofro junto e, às vezes, aprendo de carona. Logo me incluo nessa. E durante essa maratona tirei uma lição que deveria virar matéria na sala de aula: organização. 

Você tem a personalidade bem parecida com a minha. Nas qualidades adoro adimitir, a outra parte já tentei terceirizar a 'culpa' embora seja inegável a nossa semelhança. 

O fato é que mesmo você não sendo psciana, vive com a cabeça no mundo da lua e se distrai por muito pouco. Isso gera obstáculos para uma rotina que funcione em qualquer aspecto da vida. 

Assim, eu proponho um pacto para que sejamos donas do nosso tempo. Vai funcionar mais ou menos assim:

Você capricha na montagem dos cálculos e na correção dos exercícios enquanto eu vou deixar as minhas anotações em ordem. 

A minha mesa vai ter tudo no lugar, não vou deixar coisas espalhadas, e você vai priorizar o seu quarto. 

Nesse ponto específico a gente percebe claramente que a  teoria tem razão. Quando você coloca o lápis em cima de uma mensa ao invés de guardar no estojo, vai perder tempo procurando o objeto. E uma atividade que levaria uma hora, passa a dispensar até 2 horas. O mesmo acontece quedo eu perco as chaves e o celular dentro de casa. 

Ah, e o celular, hein? O desafio é definir um tempo só para ele. Muito desafiador diante da mensagem que pipoca na tela.  Confesso que eu não vou conseguir parar de olhar, mas os reels do Instagram dá para limitar para uma ou duas vezes por dia e não entre a resolução de um problema e outro. 

Alías, eu só consegui parar para escrever esse texto porque silenciei o telefone. 

Daqui para frente vou me esforçar para não adiar nem parar nada pela metade. Vou ser dona do meu tempo e você do seu. Topa?

Na próxima, a gente combina a agenda do dia. 

Sou grata por pequenos momentos e nem sabia

Quase nunca a gente dá importância para as coisas simples. Mas hoje arrumando a cozinha, tarefa que detesto, senti uma alegria plena e dei graças a Deus pela oportunidade de ter boas refeições com você e seu pai. 

Especialmente nesse dia demos boas risadas e isso me fez refletir o quanto sou privilegiada por compartilhar dos momentos em família. Não é todo mundo que pode, consegue ou quer se sentar à mesa para comer o trivial e jogar conversa fora. 

E se eu pudesse voltar para o início desse almoço para fazer uma oração, seria assim: "Obrigada, papai do céu, por esse momento. Que a gente consiga vencer a correria do dia a dia e valorizar mais o ser do que o ter sem que nos falte nada. Amém!".

Pra lá da metade da adolescência

Em inglês fica fácil definir o período da adolescência:  entre 10 e 19 anos, quando se vive os teens - teen de teenager.  Mas em todo o mundo é difícil ser mãe de adolescente. 

Eu já percorri mais da metade do caminho, embora há uma linha da ciência que diz que está apenas começando. Gigi, você acabou de completar 15 anos, uma teenager oficial. 

Traz dentro dentro desse corpo em transformação um vulcão de emoções. Tudo é maior, um drama. Por isso, a chamo carinhosamente de drama queen. Você não gosta e faz questão de mostrar a insatisfação.

De um filho adolescente a gente pode esperar de tudo. De alfinetadas a abraços apertados. Diferente do que dizem por aí, você gosta de ficar agarrada,  de ganhar beijos e requer muita atenção. 

As suas palavras atravessadas me fazem soltar um "se eu dissesse isso para a sua avó quando eu tinha a sua idade...".

E, sim, perco a paciência quase sempre. Falar centenas de vezes a mesma coisa e você "esquecer" realmente me tira do sério. Deixar para depois se transforma em um ritual que 'vai dar ruim'. 

Eu sei que ser filha adolescente também é difícil. Ouvir 'não', 'agora', 'não tem escolha', 'chega' e tantas outras palavras que não condizem com a tal liberdade de expressão que tanto defendo parece contraditório. Você tem razão, eu reconheço. 

Ah, e claro que sei que quando digo "eu avisei" sou chata, até insensível. Mas eu avisei. 

Te conheço desde o ventre, lembre-se disso. E só quero o seu bem. 

Acordar cedo é um desafio para adolescente e a ciência explica

Acordar cedo não é uma tarefa fácil nem para o adolescente nem para quem tem que derrubá-lo da cama. Gigi, você acorda no susto, quase nunca com o despertador, mas com a minha voz dizendo "está atrasada" ainda que falte 1h30 para a aula começar. O ritmo é lento e os meus gritos parecem ecoar lá no fundo com uma voz distante. 

O neurocientista Fernando Louzada explica que "adolescentes sofrem de uma tendência natural a atrasar o momento de dormir e esclarece que a faixa etária demanda uma quantidade maior de horas de sono, que não é alcançada com o modelo de ensino atual".

Os adolescentes precisam de mais sono do que os adultos, em média de nove horas. Nesse sentido o horário escolar não ajuda. A maioria das escolas nos Estados Unidos começam entre 8 e 8h30, uma hora depois do estabelecido no Brasil. O que seria uma vitória, não é o suficiente. 

Em uma conta rápida, seria preciso dormir às 21h30 para acordar a tempo de chegar para a primeira aula, comportamento pouco provável para uma menina de 14 anos. 

Sono vale ouro 

O neurocientista explica que é preciso encontrar caminhos porque o sono é fundamental. "Para manter a integridade do sistema imunológico, atuar no controle do metabolismo energético, preservar a cognição e o funcionamento cerebral. Por isso, ficar longos tempos privados de sono favorecem o ganho de peso, o desenvolvimento de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2, além de problemas cardiovasculares e neurodegenerativos", pontua Louzada.

O sono mexe muito com a regulação emocional também. "Quando não dormimos, ficamos com maior impulsividade, maior irritabilidade, menor resiliência para enfrentar as situações difíceis. E se pensarmos que a adolescência já é uma faixa etária muito exposta a transtornos psiquiátricos, essa preocupação com sono deve ser ainda maior, pois o cérebro ainda está em formação", observa o médico. 

Além disso, o sono consolida as nossas experiências depois do aprendizado. Ao dormir, o cérebro permanece ativo e essa atividade está a serviço dessa formação de memórias, o que impacta diretamente no desempenho escolar.

Soneca durante a tarde

Em geral, a soneca durante a tarde é benéfica, mas há duas preocupações. "A primeira é que as evidências mostram que cochilos muito longos, com mais de 90 minutos, começam a repercutir no sono noturno, então você terá mais dificuldade para dormir à noite. Por isso, o recomendado é que dure no máximo 1h e meia."

A outra preocupação é o fenômeno chamado inércia do sono, que é a tendência de continuar dormindo mesmo após ter acordado. "Em algumas pessoas isso dura pouquíssimo tempo em outras ele é mais longo e podem ter uma dificuldade maior em produzir e estudar após o cochilo. Para essas pessoas, pode não valer a pena a soneca por comprometer o resto do dia."

Qualidade

E para os jovens, nove horas de sono não são suficientes se não for de boa qualidade, se você acorda muitas vezes durante a noite, por exemplo.  Então é muito importante observar se está muito sonolenta, dorme em situações em que não deveria, está mais irritada, com mais dificuldade em manter o diálogo em situações estressantes, se está mais deprimido ou com falta de motivação.

Para ajudar, há uma série de medidas da chamada higiene do sono. Elas vão desde as condições do ambiente, como garantir que ele esteja o mais silencioso, escuro e confortável possível, até hábitos como atividade física regular, alimentação adequada, evitar estimulantes, como cafeína, nas horas que antecedem o sono e reduzir a estimulação luminosa de telas nesse período. Tudo isso contribui para um sono melhor.

Vamos tentar. 

Mais brasileira ou americana?

Fizemos uma brincadeira no rádio para ressaltar as diferenças entre as culturas em uma alusão a você ser muito americana para ser brasileira e muito brasileira para ser americana.

O ping-pong foi divertido e está registrado aqui. O saldo até agora aponta que você é muito americana.

Provavelmente vamos adicionar mais itens em algum momento. E tudo pode mudar.

Pizza com a mão ou com talheres?

Mão. Eu sou muito americana pra ser brasileira.

Cachorro quente só com salsicha ou com molho, milho verde, batata palha, etc?

Só salsicha. Eu sou muito americana pra ser brasileira.

Brigadeiro ou Brownie?

Brigadeiro. Eu sou muito brasileira para ser americana.

Abraço ou aperto de mão no primeiro encontro?

Aperto de mão. Eu sou muito americana para ser brasileira.

Calça para ir ao mall: Jeans ou moletom?

Jeans. Eu sou muito brasileira para ser americana.

Tem samba no pé?

Não. Eu sou muito americana para ser brasileira.

Será que é legal tirar foto com o Noel?

Nessa época de celebrações de fim de ano fazemos muitas reflexões e uma, que parece até boba, me fez questionar o por que de posar com o Papai Noel. E embora já tenha até passado a data, acho que vale a pena registrar. 

Não consegui achar uma foto sua feliz de verdade com o bom velhinho e isso me levou a pensar que talvez você não gostasse do evento. Eu achava que era legal participar dessa tradição comercial. 

Essa foi sua última foto com o Noel, aos 6 anos

É claro que a celebridade Noel gera empregos. Isso é bom! Tem crianças que gostam. Isso é ótimo. 

Mas hoje, se eu pudesse,  daria um conselho às mamães. Nunca obrigue os seus filhos a tirarem fotos com o Papai Noel. 

A terapeuta de família, Mônika Walker, diz que o importante é prestar atenção aos sinais. "Se o bebê chora é sinal que não o agrada. Trata-se de cumprir a vontade dos pais", observa. 

"Já quando é grandinha, é importante perguntar se a criança quer um retrato com o Papai Noel e respeitar a resposta", aconselha a terapeuta. 

De fato, como eu disse, você nunca chorou, Gigi. Mas acho que também nunca curtiu. 

Quando passou a entender, eu perguntava se queria tirar a tal foto. Como sempre foi muito tímida, eu acabava te convencendo a sorrir ao lado do bom velhinho com medo que você se arrependesse no futuro.  

Hoje quem se arrepende sou eu.