Saturday, August 11, 2018

Amamentação sem script

Nos últimos dias sempre que abro uma publicação ou rede social me deparo com alguém falando sobre amamentação. Tudo isso, claro, porque desde 1992 o mundo celebra esse tema na primeira semana de agosto e ano passado o Brasil instituiu o Mês Dourado, tempo de lembrar a importância do aleitamento materno.

Eu poderia listar uma série de benefícios de amamentar exclusivamente o bebê até os seis meses e como complemento até os dois anos de idade. Tudo isso é cientificamente comprovado, mas o corpo de cada mãe é peculiar, cada uma sabe o seu limite e nem tudo é dourado.

E quero falar sobre isso. Em uma dessas leituras, uma amiga reclama da sua frustração diante de tantos depoimentos cor-de-rosa. Ela sofreu, o leite empedrou, sentiu dor e a amamentação não seguiu tão longe.

Muitas mães passam por isso. São histórias bem reais e cada uma tem a sua, sem script.

A minha história foi cheia de altos e baixos, bem diferente de um conto de fadas. Eu mal sabia pegar a Gigi no colo, esqueceram de mandar o manual de uso junto com o bebê.

No nosso primeiro contato, os meus seios não tinham o bico formado ainda que eu tivesse feito todas as massagens que me recomendaram. O meu corpo simplesmente não respondeu.



Eu tentava, ela tentava e a boquinha escorregava. Com fome, sempre faminta, Gigi não tinha paciência e eu ficava desesperada.

Foi assim que conheci o bico de silicone. Muita gente falou para eu não usar porque Gigi não se adaptaria mais apenas ao peito.

Mas não foi assim conosco. Aos poucos, o bico do meu seio foi se transformando e dispensei a silicone, numa transição tranquila para a Gigi e sem dores para mim.

Para a nossa sorte, eu tinha muito leite. E quando Gigi estava comigo, a hora de mamar era quando o meu peito enchia, ainda que as tais três horas não tivessem passado.

E, sim, com todas as contra-indicações, ela dormia na cama comigo e mamava a noite inteira. 

As críticas entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Eu sabia do meu limite. De que teria que acordar cedo e sair para trabalhar no dia seguinte. 

O meu corpo precisava daquelas horas de sono que muitas mães podem dispensar para sentar na cadeira enquanto amamentam, esperar o tempo do bebê voltar a dormir e ir para a cama.

Para mim, isso definitivamente não funcionava.

Voltei para o trabalho depois de três semanas do nascimento da Gigi. Aqui nos Estados Unidos se você é mãe que trabalha fora tem duas opções: ou tira férias não remuneradas para cuidar do bebê sem garantia de ter o emprego de volta ou retorna ao trabalho – depois de duas semanas - e coloca o seu filho aos cuidados de outra pessoa.

Eu tive que fazer a segunda escolha. E olha que a organização para a qual eu trabalhava foi boa e me pagou por duas semanas afastada. A terceira foi por minha conta. Mas isso é assunto para outra hora.

Eu passei a deixar a Gigi com a babá (já contei esse episódio aqui) e durante o dia tirava o leite com uma maquininha elétrica portátil que eu carregava por onde eu fosse sem o meu bebê. Eram de três a cinco mamadeiras garantidas para o dia seguinte da minha bezerrinha. Como mamava essa menina!

E esse foi outro mito que tive que superar. Se ela mamar na mamadeira, não vai voltar para o peito. Mentira. Ou pelo menos conosco não foi assim.

Gigi mamava o dia inteiro o meu leite na mamadeira e quando eu chegava para buscá-la na babá, ela pedia e eu a amamentava antes de sair. Os olhinhos reviravam toda vez que ela encostava a boquinha no meu seio. E como eu gostava daquela sensação e da mãozinha no meu coração.


Aliás, esse é outro ponto. Nunca tive vergonha de amamentar em público. Com toda a discrição, alimentava a minha filha até quando ela ia para o trabalho comigo. Durante reuniões, lá estava eu amamentando, às vezes andando pra lá e pra cá. Claro que, mais uma vez, tive sorte de estar trabalhando para uma ONG de mulheres e sobre isso todas nós nos entendemos muito bem.

E durante esse vulcão de emoções, que é o início da maternidade,  há ainda o fantasma da questão estética. Não, o meu peito não caiu. Pelo contrário, a amamentação foi a dieta mais eficaz da minha vida. Fiquei magrinha e com os seios fartos.

O espanto veio mesmo quando parei de amamentar (reveja aqui) depois de quase dois anos. Me olhei no espelho e tive a sensação de ter retornado à adolescência a tal ponto de reduzir o número do sutiã. Confesso que ri para não chorar.

Mas foi por pouco tempo. Em semanas, os seios voltaram ao normal e eu consegui manter o equilíbrio na balança.

Enfim, essa foi só a minha experiência, bem diferente de um conto de fadas. Apenas mais um capítulo da história real da Mamãe da Gigi.