Monday, May 29, 2023

A dor do outro machuca

Outro dia você chegou chorando da escola. Você literalmente explodiu após ver um colega ser vítima de bullying por sucessivas vezes. A gota d’água foi quando ligaram as atitudes do garoto “consideradas esquisitas” ao autismo. 

Duas coisas te incomodaram: o fato de uma pessoa não ser considerada “normal” porque tem atitudes diferentes e o uso indiscriminado (e pejorativo) do termo autista. 

Você lamentou mais ainda pelo colega que nem entendeu que foi motivo de chacota. 

Você está certa. Autismo não é xingamento, é uma condição neurológica que faz as pessoas reagirem aos estímulos de forma diferente do que a sociedade geralmente aceita. Há graus mais leves outros bem intensos. 

E quando há tanta informação sobre o assunto, por que usam isso para “tirar sarro” de alguém?

A alta do número dos diagnósticos também deveria gerar mais empatia. Há muito mais pessoas co Transtorno do Espectro de Autista (TEA) por aí do que se imaginava.

Em 2000, os Estados Unidos registraram um caso de TEA a cada 150 crianças observadas. Em 2020, houve um salto gigantesco: um caso do transtorno a cada 36 crianças. 

As estatísticas são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que divulgou a atualização em abril — já que os dados são sempre anunciados pelo menos três anos após a coleta. 

E qual é o problema de ter mais autistas? Os outros.

Nem a escola soube lidar com a situação. 

Embora tenham te acolhido, entendido a razão de você ter tentado ofender os bullies com expressões que não passaram de “burros e mal amados”.

Não houve uma discussão sobre autismo, diferenças e empatia. No máximo ocorreu uma “bronca” que só faz os teens rirem e não os coloca a pensar. 

Os pais nem foram notificados. Soubemos por você. 

Eu sei que isso te fez sofrer e que você foi alvo de bullying nos outros dias.

Só preciso dizer que fazer o certo exige coragem. Estou ao seu lado e tenho muito orgulho de você. 



Saturday, May 6, 2023

A vida real de mãe de adolescente tem muita conversa e pouco resultado

Já te perguntei como faço para me comunicar com você, né Gigi? A gente conversa muito, acho que temos uma relação de amizade e confiança bem sólida. Você fala que eu sou a sua melhor amiga e tenho um orgulho danado disso. 

Mas por que então você não me ouve?

Os psicólogos, terapeutas e toda a leitura de psicologia que encontro dizem que é preciso diálogo. E nós temos. Mas da teoria para a prática: como fazer você - e talvez qualquer outro adolescente - entender que o papo é sério. 

Acreditava que tanta informação, apelo à beleza e à saúde seriam os meus aliados. Mas no dia-a-dia parecem insuficientes.

Coisas simples como a importância de beber água. Lembra desse post?

A gente continua na luta para você compreender os inúmeros benefícios da água para o seu organismo. E você só encara um copo aos berros e chantagens, totalmente contraindicados pelos especialistas. 

Os outros

Outro dia você acordou me pedindo para comer uma cenoura crua logo cedo, foi tomar o sol da manhã e, para minha surpresa, bebeu água!

Isso porque viu uma influenciadora digital fazendo. A empolgação, no entanto, durou um dia e me fez pensar que você não é tão influenciável assim. 

Na semana seguinte tentei usar da mesma metodologia. Aliás, uma sugestão do seu pai que adorei. Gravei um vídeo para orientá-la sobre os cuidados para se recuperar da gripe e te enviei da cozinha, onde eu estava, para o seu telefone no quarto, onde você estava.

O resultado foi muita risada, a crítica de que eu devia ter começado o vídeo com “meus amores” e  (só) um dia de muita água.